A covardia dos cidadãos de bem de Paraty que ameaçam Greenwald — sem se identificar, claro. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 11 de julho de 2019 às 17:02
Paraty é dos cidadãos de bem, não do Glenn

Moradores de Paraty estão organizado um protesto contra a presença de Glenn Greenwald na Flip, a festa literária que acontece todo ano na cidade e que traz um pixuleco à economia local.

Greenwald vai palestrar na sexta às 19h de sexta, dia 12, num evento paralelo que ocorre num barco, ao lado de Alceu Castilho, Gregorio Duviver e Sergio Amadeu.

Os manifestantes pretendem cancelar a conferência. São, segundo as próprias contas, 500.

Como vão fazer isso? Na porrada, provavelmente, que é como um discípulo de Carluxo dialoga?

Primeiro enviaram um email à organização da feira pedindo que Greenwald fosse retirado da programação.

Receberam, evidentemente, uma negativa.

Alguns falaram à Folha de S.Paulo. O que se extrai é um resumo do esgoto mental bolsonarista:

“Foi uma indignação instantânea quando essa palestra foi divulgada. A indignação é por um estrangeiro vir discutir sobre a Lava Jato, este patrimônio do brasileiro decente que cansou de ouvir barbaridades sobre roubalheira. Um americano que foi expulso do país dele. Falam que ele ganhou o prêmio Pulitzer, mas ele não ganhou nada, é tudo fake.”

GG, como se sabe, não foi “expulso” dos EUA e a medalha do Pulitzer de 2014 pelo caso Snowden está na prateleira. 

De acordo com esses democratas, gringos só podem vir ao país se calarem a boca sobre o lavajatismo.

“Se violar o celular da gente já é um crime gravíssimo, imagina o que eles fizeram com uma autoridade, um ministro de Estado. A gente vai receber um cara que não tem moral. Lugar de bandido é na cadeia. Será que a Flip vai fazer isso, trazer mais bandidos e criminosos para cá?”

Quem serão os outros bandidos de Paraty? Milicianos?

“Existem pessoas no grupo que estão bem revoltadas. Nós não queremos envolver política nas festas da cidade, e eles estão praticamente querendo colocar a sede do comunismo aqui.”

Tá certo.

O que chama mais atenção, no entanto, é a valentia dessa escumalha.

Nenhum deles — nenhum — saiu do anonimato para fazer essas ameaças. Não têm nome e nem sobrenome.

O cidadão de bem é, sobretudo, um covarde vadio.

Capuzes brancos podem resolver a parada facilmente.

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