A crise no governo dos EUA que dificulta a conversa entre Lula e Trump

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 12:24
Lula e Donald Trump durante seus discursos na ONU. Foto: reprodução

A conversa telefônica entre os presidentes do Brasil, Lula (PT), e dos Estados Unidos, Donald Trump, permanece sem previsão concreta para ocorrer, adiando a uma possível resolução com o governo estadunidense sobre as relações bilaterais com o Brasil. A demora surpreende após as declarações públicas de Trump durante a Assembleia Geral da ONU, em que afirmou ter tido uma “ótima química” com o líder brasileiro e antecipou um diálogo entre ambos para a semana passada.

Segundo o Uol, fontes diplomáticas de ambos os países afirmam que o impasse pode se prolongar devido a múltiplos fatores. O governo estadunidense enfrenta simultaneamente uma crise doméstica com o shutdown da administração federal e um delicado processo de mediação de paz entre Israel e Hamas em Gaza.

A cisão no governo estadunidense tornou-se mais evidente desde o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF em 2 de setembro. Trump classificou o processo como “caça às bruxas” e utilizou o episódio como justificativa para as medidas comerciais implementadas contra o Brasil desde julho, manifestando surpresa com a condenação definitiva de Bolsonaro por todos os crimes.

Dois grupos distintos disputam influência sobre a política externa estadunidense em relação ao Brasil. De um lado, a ala pragmática inclui o secretário de comércio Howard Lutnick, o representante comercial Jamieson Greer e o enviado especial Richard Grenell. Do outro, a vertente ideológica é liderada pelo secretário de Estado Marco Rubio, seu vice Christopher Landau e o secretário do Tesouro Scott Bessent.

Congresso dos EUA
Congresso dos Estados Unidos – Reprodução

Enquanto o julgamento de Bolsonaro transcorria, pelo menos três fontes do governo brasileiro relataram ter sido consultadas por interlocutores de Trump sobre como Lula reagiria a um cumprimento cordial nos bastidores da Assembleia Geral da ONU.

Esses contatos envolveram principalmente representantes da ala pragmática, sensível aos prejuízos que empresários estadunidenses vêm sofrendo com as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros em vigor desde 6 de agosto.

Uma série de reuniões de alto nível tem ocorrido nos últimos dias. O embaixador Jamieson Greer conversou com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PBS) no dia 11 de setembro, data da condenação de Bolsonaro. No dia 15, o chanceler Mauro Vieira encontrou-se com Richard Grenell no Rio de Janeiro. E na última quinta-feira, 25, o secretário Lutnick manteve nova conversa com Alckmin, dois dias após o abraço entre Lula e Trump em Nova York.

Enquanto isso, o departamento de Estado e o Tesouro têm sido os principais articuladores das medidas restritivas contra o Brasil, incluindo sanções da Lei Global Magnitsky ao ministro do STF Alexandre de Moraes e sua esposa, implementadas menos de 24 horas antes do encontro entre os presidentes.

Apesar do conhecimento prévio sobre a disposição de Trump em encontrar Lula, a efusividade demonstrada pelo republicano durante o abraço surpreendeu sua própria equipe. Na tribuna da ONU, Trump improvisou elogios ao brasileiro, cujo discurso não havia recebido qualquer aplauso de Rubio.

Por questões de protocolo, caberia ao Departamento de Estado conduzir as negociações para um telefonema entre os líderes. No entanto, as ações da equipe de Rubio parecem reticentes em concretizar o contato. “É como se eles estivessem esperando perder o momentum, deixar passar a chance”, afirmou um diplomata brasileiro envolvido nas tratativas.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.