A “cura gay” é mais uma chance de evangélicos ganharem dinheiro com a ignorância alheia. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 19 de setembro de 2017 às 8:17
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A decisão da Justiça do Distrito Federal permitindo, em caráter liminar, que psicólogos possam tratar homossexuais como doentes abre espaço para a famigerada “cura gay”, empulhação de evangélicos e curandeiros doentes.

O Conselho Federal de Psicologia vai recorrer às instâncias superiores, mas a felicidade de fanáticos religiosas é imensa.

Num “debate” entre Marco Feliciano e o vlogueiro Felipe Neto no ano passado, um dos momentos mais estapafúrdios entre tantos momentos estapafúrdios foi quando o pastor e deputado declarou conhecer “mais de 5 mil” gays.

“Desses 5 mil, 90 por cento deles passaram por abuso sexual na sua infância. Foram abusados por algum adulto. Noventa por cento. Os outros dez por cento que sobraram tiveram transtorno com a figura do pai, transtorno com a figura da mãe. Foram violentados”, disse.

Em 2013, Marco Feliciano aprovou na Comissão de Direitos Humanos e Minorias um projeto de lei de um colega propondo a “cura gay”.

Garante que conhece várias pessoas que “largaram” o vício. Em junho do ano passado, convocou oito delas para dar um depoimento na Câmara.

O próprio Feliciano deveria passar por esse tipo de tratamento antes de prescrevê-lo aos outros. Algumas das técnicas usadas:

. “Profissionais” ligam eletrodos na genitália e passam filmes pornôs gays. Dependendo da reação, choque.

. Um emético é servido aos “pacientes” durante a exibição de — novamente — pornôs gays. O sujeito vomita enquanto assiste.

. Um outro método conhecido: reza. Ou, como fanáticos chamam, “intervenção espiritual”. Há sessões de “descarrego”.

. Em abril de 2012, o escritor Gabriel Arana descreveu sua experiência: o terapeuta culpou seus pais por sua homossexualidade e pediu-lhe para se distanciar de suas melhores amigas.

. Um jovem americano processou seu psicanalista depois que ele pediu que ele se despisse e se tocasse para se “reconectar com sua masculinidade”.

Nos EUA, Obama pediu a extinção dessa picaretagem. “Partilhamos da preocupação a respeito dos efeitos devastadores sobre as vidas de trangêneros, gays, lésbicas e bissexuais”, disse a assessora da Casa Branca, Valerie Jarret. Foi uma reação ao suicídio de Leelah Alcorn, transgênero de 17 anos que se atirou na frente de um trator.

Lá como cá, essa empulhação é uma obsessão da direita religiosa. Desde 1990 a Organização Mundial da Saúde não considera a homossexualidade uma doença.

Para além da burrice, do atraso e da demagogia, está a velha vontade de ganhar dinheiro.

Em 2013, pelo menos seis clínicas brasileiras ofereciam serviços de “conversão” — todas elas, ligadas a igrejas. Eis mais um filão a ser explorado por oportunistas em nome de Jesus.