A cura gay é um avanço — para o século XV

Atualizado em 19 de junho de 2013 às 13:26

Os evangélicos dizem que a homossexualidade é opção; portanto, Feliciano e Malafaia tiveram de escolher entre homem, mulher ou semelhantes.

Agora vai
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Enquanto estávamos falando das manifestações nas principais capitais do país, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) aprovou nesta terça-feira (18) o projeto legislativo apelidado de “cura gay”, que suspende a proibição do Conselho Federal de Psicologia na qual um psicólogo poderia “tratar” a homossexualidade de seu paciente.

A aprovação do projeto é um sucesso. Dá sinais de que o Brasil está quase alcançando os países mais desenvolvidos. Mostra que, com esforço e persistência, um dia poderemos ser civilizados. Isso, claro, se a nossa meta estiver apontada para o século XV.

Fomos apanhados desprevenidos. Essa aprovação caiu sobre nossas cabeças enquanto ocupávamos as ruas em busca de algo vago chamado progresso. Bastou que os manifestantes trocassem o plenário do colegiado pelas ruas para a comissão aprovar com facilidade o que já tentava há meses.

Hoje, se um homossexual procura tratamento com um psicólogo, este pode diagnosticá-lo como perturbado ou bipolar, mas jamais poderia tentar mudar sua orientação sexual. Com o projeto de João Campos (PSDB – GO), qualquer um poderia procurar orientação profissional para tentar resolver o “problema”. O argumento é de que, com o projeto aprovado, o homossexual teria liberdade para resolver suas questões íntimas com esses profissionais.

Parece razoável que um adulto busque um especialista, ou quem quer que seja, para resolver seu problema com a orientação sexual (há quem pague profissionais para tirar ou acrescentar letras em seu nome e assim mudar sua relação com o mundo, por que não?). Mas como é que um psicólogo poderia mudar algo que, até o presente momento, nunca foi revertido com sucesso?

Nunca ouvi falar de alguém que deixou de ser gay. Há, sim, gente que gosta de ser enganada. Conheci um sujeito que, depois de começar a frequentar os cultos da Bispa Sônia, nunca mais foi visto com outro homem. Ele continua estridente e chamativo. Sua presença se faz notar a quilômetros. Mas quando alguém pergunta sobre sua sexualidade, ele muda de assunto e prefere falar de novela mexicana. E jura que foi curado.

Ao aprovar a cura gay a comissão dá a entender que a homossexualidade pode ser tratada. A bancada evangélica parece ter a resposta para algo que nem os psicólogos acreditam. A ideia de um ex-gay é tão fantástica quanto os animais do mundo de Nárnia. Ainda que o rato falante seja mais verossímil.

A homossexualidade foi excluída da Classificação Internacional de Doença há mais de 30 anos. Os políticos e os evangélicos nunca foram incluídos nessa lista. Por aí percebermos que há algo muito errado.

Os pastores evangélicos costumam falar que a homossexualidade é uma opção. O que sempre me faz pensar que Marco Feliciano e Silas Malafaia, em algum momento da vida, tiveram de decidir se ficariam com homem, mulher ou semelhantes.

A bancada evangélica quer salvar o país da imoralidade. Como se a homossexualidade fosse uma terrível ameaça às almas de bem. Começa tentando empurrar a cura gay, passa a debater sobre o que o seu filho pode ver na televisão e sabe-se lá onde pode terminar. A imbecilidade de demagogos não deve ser subestimada. Suas ideias podem ir mais longe do que uma mente minimamente sã é capaz de imaginar.

O projeto de cura gay ainda precisa ser aprovado por outras duas comissões e votação no plenário. Dificilmente passará pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Mas caso passe, minha sugestão é que os gays faltem no trabalho, tirem licença médica e usem o auxílio doença até que se curem da homossexualidade.

Aparentemente não existe nenhum problema de maior gravidade no país.

Deus seja louvado.