A Day in the life of Sir Paul Winston McCartney

Atualizado em 12 de junho de 2013 às 19:24
Paul Winston McCartney no concerto para a Rainha

 

Paul McCartney lutou a vida inteira para sair da sombra de John Lennon.

Lennon, com sua imensa revolta interior nascida em grande parte do abandono dos pais, foi o grande gênio criativo dos Beatles. A constante inovação dos Beatles na música derivou, em boa parte, da inquietação de Lennon.

Ele não deixou os Beatles serem tragados pelo sistema. É célebre a frase que pronunciou numa apresentação diante de uma platéia composta de ricos, na parte de cima, e pobres, em baixo. “O pessoal de baixo pode aplaudir. Ao pessoal de cima basta sacudir as jóias”.

A grande arte nasce da grande dor. A alegria produz arte de bobos para bobos, gostemos ou não. E Lennon jamais se livrou de uma angústia monumental que se expressou em hinos do desespero como Yer Blues, Hapiness is a Warm Gun e Mother.

Paul era bem mais convencional que John. É impossível imaginar que Lennon aceitasse a comenda de “Sir”, como Paul. Ou que pintasse os cabelos.

Com o fim dos Beatles, em 1970, ficou a imagem de que John era o autor das músicas sérias e Paul das melosas. E Paul se insurgiu contra isso.

Quis mostrar que também transgredira como beatle. Que fizera músicas adultas também como Fool on the Hill ou Penny Lane. Que a idéia do álbum conceitual Sgt Pepper fora dele.

Mas.

Mas sair da sombra de Lennon parece ser tarefa acima das forças, a despeito da morte prematura de John, aos 40 anos, em 1980.

Ontem, por exemplo.

Num concerto em frente ao Palácio de Buckigham em homenagens aos 60 anos de reinado de Elizabeth, Paul foi triunfalmente anunciado pelo apresentador desta forma: “Com vocês, Sir Paul Winston McCartney”.

Paul Winston McCartney?

Não. James Paul McCartney.

Winston era John. John Winston Lennon. Winston por causa de Churchill, o beligerante primeiro ministro britânico de quem John jamais foi um admirador. Por isso ele nunca disse ser John Winston Lennon. Apenas John Lennon.

Estava vendo o concerto pela televisão. Na hora meu ouvido acusou o golpe. Perguntei a Erika: “Ouvi Winston mesmo?” Uma pesquisa no Google mostrou que sim. Curioso que a BBC tomou carona no erro, e num texto sobre o show tratou Paul como Paul Winston McCartney.

Paul Winston McCartney?

É.

Melhor Paul deixar o objetivo de se livrar da sombra de John para uma próxima vida.

Quanto a mim, percebi recentemente que cada vez que vejo Paul sinto mais saudade de John.