A decência de Ratinho Jr. e a indignidade de Eduardo Bolsonaro. Por José Cássio

Atualizado em 1 de março de 2019 às 23:36
Sangue ruim

“Fiz o que ele e qualquer outro faria no meu lugar”.

A frase dita à repórter Thais Arbex da Folha é um exemplo de que nem tudo está perdido no Brasil.

Enquanto Jair Bolsonaro e filhos destilam ódio e grosseria, Ratinho Junior, governador do Paraná, mostrou, ao ser solidário com Lula e emprestar uma aeronave para que o ex-presidente Lula possa participar do velório do neto, que dá para ser civilizado mesmo num ambiente inóspito como o que estamos vivendo.

“É apenas um gesto de solidariedade para um ex-presidente”, completou o governador.

Na contramão dessa iniciativa, tão logo soube da morte do pequeno Arthur, Eduardo Bolsonaro apressou-se em ir ao Twitter para xingar o ex-presidente de “larápio” e advogar que a Justiça não autorizasse sua saída de Curitiba.

Vindo de quem veio é esperado, mas Eduardo escreveu em três linhas uma das páginas mais estúpidas da história política do país.

Incomparável inclusive com o ódio destilado pelo pai em relação à Dilma Rousseff no tempo em que ela exercia a presidência.

“Espero que o mandato acabe hoje, com ela infartada ou com câncer”, barbarizou Jair.

Os Bolsonaros inauguraram no país uma era que se pode classificar sem medo de errar de ‘selvagem’.

Não têm noção do que seja gentileza. Compaixão é uma palavra que não existe no dicionário da turma.

Semana passada eu conversava com Renata Souza, deputada do PSOL no Rio de Janeiro.

Ela lançou sua candidatura à Assembleia Legislativa para dar continuidade ao legado de Marielle Franco, de quem foi chefe de gabinete e companheira de lutas por quase 15 anos.

Perguntei sobre seus hábitos e sua rotina. Renata desconversou.

“Tomo meus cuidados, mas prefiro não falar a respeito”.

Um colega do PSL, Rodrigo Amorim, unha e carne com Eduardo, Flávio, Carlos e Jair, mandou colocar numa moldura e pendurar num local de destaque no seu gabinete a placa de rua que quebrou com o nome de Marielle.

Amorim não se digna a estender a mão para cumprimentar Renata. Ainda assim ela não esboça qualquer sentimento de contrariedade.

“Faz parte do showzinho dele”, limita-se a dizer.

Relevar gestos como esse é um erro.

Por medo, ou por caldo de cultura mesmo, estamos deixando crescer entre nós um problema social sério que está levando o país à inviabilidade.

Hoje é com Renata, com Jean Wyllys, com Lula, ontem foi com Marielle e Anderson Gomes, seu motorista, e amanhã pode ser comigo, com você, com nossos filhos.

Isso não pode e não deve continuar. Por isso o governador paranaense mostrou que está no caminho certo.

Note que se refere ao próprio Lula quando diz que fez “o que ele e qualquer outro faria no meu lugar”.

Está coberto de razão.

Por mais que você não goste do ex-presidente, jamais poderá acusar Lula de indignidades como as praticadas todos os dias por Jair, filhos e agregados.

Trouxeram para a cena política as práticas que a gente só vê nas mais violentas torcidas uniformizadas.

Alguém precisa dizer a eles que o Brasil não é o Maracanã.

Partidos políticos não são torcidas de futebol e seus membros e simpatizantes não precisam ser tratados como inimigos mortais.

Das piores uniformizadas, Bolsonaro e filhos trazem também o vício de comportamento.

Ao mesmo tempo em que ameaçam e agridem, se calçam em bandidos como os milicianos cariocas envolvidos com Fabrício Queiroz e cujos parentes estavam lotados no gabinete de Flávio Bolsonaro.

Certa vez numa aula de direito aprendi que você jamais deve trocar tiros com ladrões. Eles são do ramo, estão preparados para o que der e vier. Você, não.

Os exemplos que Bolsonaro e filhos nos dão todos os dias me fazem lembrar do velho professor Dênis. Trocar com eles é levar desvantagem na certa. Não tem acordo.

Uma pena que, para cada Ratinho Júnior que nasce, parimos meia dúzia ou mais de Jairs, Eduardos, Flávios e Carlos.

Pobre Brasil.