A decisão arriscada e eleitoreira de reabrir o campus contaminado da USP Leste

Atualizado em 23 de julho de 2014 às 12:43

usp leste

 

A reabertura da USP Leste entra para a categoria dos museus de grandes novidades. Agradou até membros do primeiro escalão do governo Fernando Haddad. Da CETESB não se poderia esperar nada diferente.

A reabertura se dá com restrições de acesso à área que recebeu aproximadamente 6 mil caminhões de terra contaminada e sem procedência. Como se tapumes controlassem o veneno.

Além da terra clandestina depositada na área de proteção ambiental do Tietê, sob os pés dos alunos e professores da USP Leste encontra-se volumosa quantidade de metano, naftaleno, chumbo e toda sorte de compostos orgânicos voláteis, semi-voláteis, pesticidas como aldrin, além dos PCB’s – Bifenilos Policlorados.

Estes, extremamente perigosos, carcinogênicos, afetam diretamente o sistema nervoso central, além de causar danos ao fígado, baço e rins. Popularmente os PCB’s são conhecidos como ascarel ou óleo elétrico.

Mas nada disso importa, ainda que relatórios apontem para eventuais riscos à saúde humana.

A CETESB atestou nesta última semana que os valores apresentados das amostras estão abaixo dos limites de intervenção, como se a exposição de indivíduos diferentes tivessem resultados iguais.

Mas de tudo o que se publicou até a reabertura da USP Leste, que no passado foi a melhor universidade da América Latina, até agora nada se mencionou sobre as possíveis “contraprovas” dos pareceres técnicos da CETESB.

Única instituição com fé pública, com tecnologia disponível para aferir níveis de contaminantes, não há outra capaz de questionar suas decisões. O Ministério Público Estadual recomendou 11 iniciativas para reabertura.

A pressão do Palácio dos Bandeirantes fez retomar as aulas face ao inevitável desgaste nas eleições.

Em 2001, João Yunes, médico sanitarista e representante brasileiro na Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) estava à frente da renomada Faculdade de Saúde Pública. Yunes era um homem à frente de seu tempo. Sua passagem pelo Conselho Consultivo da Organização Mundial de Saúde marcou época. Como sanitarista, compreendia a saúde como assunto além dos limites do indivíduo. Sua visão estava associada ao ambiente, em especial o das grandes cidades.

O sonho de João Yunes era equipar a Faculdade de Saúde Pública com moderno laboratório capaz de oferecer maior rigor na investigação científica nas questões de saúde ambiental. O ideal de um novo laboratório para análise do ambiente urbano, em especial da cidade de São Paulo, era justamente questionar dúvidas que pairavam sobre aferições e laudos das instituições.

O sonho de Yunes não se concretizou. Vale o parecer da CETESB.