A depravação moral dos bolsonaristas que assumiram o risco de cegar uma criança. Por Leonardo Mendes

Atualizado em 24 de novembro de 2022 às 9:05
Bloqueio golpista – Foto: Reprodução

Por Leonardo Mendes

De um lado uma criança com o olho ferido que precisava de uma cirurgia. Uma família desesperada, a caminho do hospital. Do outro, uma quadrilha de monstros que impedia a passagem na rodovia por não aceitar a derrota de seu líder nas urnas. Um deles chega a dizer “eu não tenho problema com o olho do teu filho. Pega um avião e vai. Não vai passar”. Os outros monstros concordam e a família não passa, a criança perde a cirurgia.

De toda a série histórica de infâmias, imoralidades e crimes que nos acostumamos a acompanhar desde que o bolsonarismo se estabeleceu como modo de vida, talvez poucas coisas superem isso em termos de depravação. São sociopatas reunidos, que se retroalimentam da maldade que compartilham, da total ausência de escrúpulos, decência, civilidade, empatia. Provas vivas e documentadas em vídeo de que o conceito de humano só pode ser aplicado num sentido estritamente biológico.

Não há essência humana, já dizia o filósofo francês Jean-Paul Sartre. Somos assim condenados à liberdade de nos construirmos enquanto pessoas do modo que escolhermos, ao mesmo tempo que ao fazermos essas escolhas, escolhemos também o modelo do que acreditamos que deva ser o humano.

O modelo dessa gente é Bolsonaro, ou Bolsonaro se construiu politicamente de modo a expressar esse modelo que já existia antes dele. Certamente já existia, mas era motivo de vergonha ser assim. O que Bolsonaro fez foi liberá-los de qualquer receio por não cultivarem nenhuma virtude. Bolsonaro foi aquele que os redimiu da culpa e do ressentimento por no fundo se sentirem desprezíveis.

O bolsonarismo é basicamente isso, somado ao apoio de canalhas cínicos endinheirados, que desejam manter seus privilégios a qualquer custo. Mas quando o custo é o olho de uma criança, imagino que possa se acender, ao menos em grande parte desse exército de ressentidos, uma luz que signifique algo semelhante a um limite.

E assim se divide esse exército. Agora de um lado apenas sociopatas de carteirinha, que de fato estão pouco se lixando se uma criança fica cega ou morre por seus caprichos. Do outro, gente iludida, golpista, mas que ainda consegue acreditar que luta pelo bem da pátria, que defende a família ou os bons costumes herdados de seus avós escravocratas.

Há um diálogo famoso que circula há anos na internet, atribuído a Hemingway ou Clarice Lispector, que diz “Quem estará nas trincheiras ao seu lado? E isso importa? Mais do que a própria guerra”.

É trágico que a essa altura ainda exista gente que não perceba do lado de quem está lutando, mas existe. Na verdade, a luta já foi vencida, no segundo turno, e o que importa agora é definir o que fazer com os derrotados. Identificá-los e categorizá-los é um passo importante, pois a lista de crimes cometidos é gigantesco.

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