A derrota das esquerdas e 2022. Por Aldo Fornazieri

Atualizado em 30 de novembro de 2020 às 8:08
Urna (José Cruz/Arquivo/Agência Brasil)

Originalmente publicado em JORNAL GNN

Por Aldo Fornazieri

As esquerdas saíram derrotadas das eleições municipais de 2020, mesmo com o crescimento do PSOL e o bom desempenho de Boulos no segundo turno em São Paulo, Não se pode torcer números para mascarar derrotas. Em termos efetivos, é preciso contar o número e a importância das prefeituras conquistadas e perdidas. Prefeituras constituem poder real por quatro anos. Votos de derrotados não são ativos estocáveis para eleições seguintes. Então, vitória é vitória e derrota é derrota. Para além disso, é pós-verdade. A análise precisa ser realista, por dolorida que possa ser. Mascarar derrotas consiste em persistir no erro e não corrigir rumos.

O PSOL obteve uma importante vitória em Belém, mas venceu em poucas prefeituras e também não elegeu grande número de vereadores. O PCdoB, além de não vencer em Porto Alegre, teve o grupo de Flávio Dino derrotado em São Luís. O PT foi o partido que mais perdeu – 71 prefeituras em relação a 2016. Foi pior mesmo do que aquele ano, quando o partido estava no foco da Lava Jato e do impeachment. Agora não venceu em nenhuma capital. As esquerdas, em geral, erraram muito no último período, mesmo com os desastres dos governos Temer e Bolsonaro. As esquerdas não se organizaram na base, levantaram bandeiras equivocadas e enfrentaram Bolsonaro de forma errada, como apontamos em sucessivos artigos. Estas eleições municipais ofereceram aos partidos de esquerda, principalmente ao PT, a ocasião da recuperação. Mas não souberam aproveitar.

Em São Paulo, em que pese o PT ter recuperado Diadema e Mauá, elegeu apenas quatro prefeitos – inadmissível no maior colégio eleitoral do país. O que resta às direções nacional e estadual do PT é colocar os cargos à disposição ou convocar um congresso partidário imediatamente para reorganizar o partido. Não é admissível que um partido que alcançou a importância que o PT atingiu seja destruído lentamente por direções burocráticas e incompetentes. O PT é um patrimônio do povo e precisa ser resgatado por uma direção competente que o renove e o coloque em linha com os novos tempos.

Os vencedores dessas eleições foram a direita fisiológica próxima de Bolsonaro – PP e PSD – e a centro-direita, destacando-se neste campo o DEM. O PSDB, em que pese ter mantido a prefeitura de São Paulo, perdeu um grande número de prefeituras, assim como MPB. A extrema-direita não se apresentou com partido próprio e os candidatos que Bolsonaro apoiou fracassaram. Os candidatos antipolíticos e o discurso da nova política também não colheram êxito.

Eleições municipais não têm um impacto determinante e resolutivo sobre eleições presidenciais. Elas constituem apenas sinalizações e conformam alguns campos possíveis, linhas de força. Dito isto, pode-se dizer que elas configuraram quatro grandes campos políticos: uma direta fisiológica, próxima de Bolsonaro; uma centro-direita, com destaque para o DEM; uma centro-esquerda, configurada em torno do PSB, do PDT e da Rede e uma esquerda, constituída pelo PSOL, PT e PCdoB.

O espaço da extrema-direita bolsonarista se estreitou e a única alternativa para Bolsonaro chegar competitivo em 2022 consiste em ser aceito e aceitar se aliar aos partidos de direita do centrão. A centro-direita deverá ter um candidato próprio. Neste campo, com o fortalecimento de alguns partidos, o espaço para Sérgio Moro e Luciano Huck também se estreitou. Esses partidos  devem fazer o cálculo de que vale o risco de tentar eleger um candidato partidário próprio do que eleger um candidato forasteiro com todos os problemas e idiossincrasias que este tipo de figura proporciona.

Com o fraco desempenho do PT, com a manutenção das duas capitais pelo PDT e com a ampliação do PSB para Maceió, além de manter Recife, o campo da centro-esquerda e a figura de Ciro Gomes se fortaleceram em relação à esquerda. Na própria esquerda, existem dois polos: um representando pelo PT e outro por Boulos e o PSOL.

As esquerdas deveriam descartar imediatamente a ideia de formar uma frente ampla contra Bolsonaro, mas lutar para formar uma frente progressista e popular abrangendo a centro-esquerda e a esquerda. A formação dessa frente depende de várias coisas. Entre elas, descartar a arrogância e a vaidade de partidos e dos potenciais candidatos, adotar prudência como guia, colocar os interesses do povo acima dos interesses dos partidos e calçar as sandálias da humildade de saber que as esquerdas vivem um momento de fraqueza e de defensiva.

Os partidos deveriam abrir um diálogo imediato entre si. Alguns pressupostos deveriam ser balizados: nenhum partido indicaria um nome neste momento, deveriam ser definidos métodos e objetivos, como a discussão de um programa e de um projeto para o Brasil e procedimentos para o relacionamento partidário. O que importa neste momento é definir um processo e ele deveria determinar o resultado. O mais provável é que formação da frente de esquerda e centro-esquerda dependa das condições de competitividade de Bolsonaro. Se Bolsonaro chegar muito enfraquecido em 2022, o que é uma possibilidade, dificilmente a frente progressista se formará. Mas se ele chegar forte, será um imperativo formar a frente, pois, caso contrário, o campo progressista corre o risco de ficar de fora do segundo turno.

Os partidos de esquerda devem agir para impedir que o campo de centro-esquerda forme uma frente com a centro-direita, o que é uma possibilidade. Para vencer uma eleição presidencial, é necessário agregar o máximo de forças políticas e sociais dentro dos parâmetros definidos pelo programa e pelos objetivos estratégicos. Se em eleições municipais os partidos devem priorizar seus interesses partidários e de construção, nas eleições presidenciais devem colocar acima de tudo os interesses do povo e do Brasil.