A derrota de Bolsonaro e o fim do bolsonarismo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 23 de julho de 2022 às 9:40
Não haverá o ‘Bolsonaro light’ com que sonham marqueteiros
Jair Bolsonaro (PL). Foto: Shutterstock

Por Moisés Mendes

Se Bolsonaro fosse o bandido de uma série policial bem rasa, todos estariam em dúvida hoje, já ao final da primeira temporada, sobre a possibilidade de seu retorno mais adiante.

Haveria sentido em contar com essa figura repulsiva numa segunda temporada? Fazendo o quê?

Se Bolsonaro fosse uma lagartixa, poderíamos especular sobre a hora em que, para sobreviver, ele soltaria metade do rabo para tentar enganar os predadores?

Mas conseguiria recompor o rabo em pouco tempo a partir do toco que sobrasse?

O cientista político Marcos Nobre é um dos envolvidos nas tentativas de enxergar o Bolsonaro derrotado por Lula, mas mesmo assim sobrevivente, com um rabo menor mas ainda funcional.

Para gente que pensa como Nobre, o bolsonarismo está entranhado em parcela relevante da população. E Bolsonaro teria forças para tentar voltar em 2026 para uma segunda temporada, por mais que pareça improvável.

Bolsonaro tem base social e política estreita, sem partido e sem uma outra organização que a aglutine. Não tem histórico como gestor de agrupamentos ou convergências quaisquer.

No Congresso, em 27 anos como deputado, andou por oito partidos. Não era, como alguns dizem erroneamente, parte do que depois seria o centrão.

Não era parte de nada, nem de ajuntamentos de extrema direita. Circulava como um avulso, um livre atirador que nem tiro de verdade dava, porque até perder a arma para bandidos ele perdia.

O Congresso abrigava um sujeito pouco afeito ao trabalho, sem afinidades políticas consistentes com ninguém e sem turma.

Por suas limitações, Bolsonaro não tinha condições nem de falar bobagens na tribuna, como muitos faziam para aparecer na Hora do Brasil.

Exatamente por tudo isso resultou, com a fantasia de antibandido e de antissistema, no candidato pós-golpe que derrotou Fernando Haddad.

Não havia sido nada como militar e não conseguiu ser nada como parlamentar.

Pronto. Era o que o Brasil precisava. Um farsante que daria conta do serviço que os tucanos não conseguiam mais atender.

Mas um futuro Bolsonaro sem militares, sem dinheiro farto para o centrão e sem o suporte de parte da elite que o engoliu seria o quê? Líder de grileiros, milicianos e garimpeiros?

Mas com que poder, se não tem uma estrutura que os mantenha minimamente organizados? Seria o líder de grupos de tios de classe média do zap e do Telegram? Frequentaria clubes de tiro?

Repetem que Bolsonaro surgiu, prosperou e chegou até aqui sem partido e sem nada do que a política tradicional ofereceu como kit de sobrevivência. E que assim poderia sobreviver fora do governo.

Bolsonaro teria provado que pode ser um solitário que nunca precisou de grupos, mas que de repente se mostrou capaz de agregar ódios, ressentimentos, medos e crueldades.

E eis então que a questão se apresenta. Derrotado, abandonado, largado na sarjeta, Bolsonaro teria condições de manter unido e integrado o contingente do que seria hoje o bolsonarismo?

É a dúvida que pode ser também a diversão do Brasil já partir de agora. O que será de Bolsonaro sem os leões de chácara que o protegem no poder?

Um Bolsonaro fragilizado dificilmente vai escapar do cerco do Ministério Público e do Judiciário.

Teria como se reorganizar, lutando só com o toco do rabo de um poder empurrado para o mundo digital, para tentar voltar numa segunda temporada?

Bolsonaro é um sujeito rodeado de perguntas por todos os lados e que daqui a pouco estará soterrado pelas mais terríveis respostas.

Texto orginalmente publicado em Blog do Moisés Mendes

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