“A direita roubou nossa palavra de ordem”: a volta do MPL às ruas foi um flop. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 13 de janeiro de 2017 às 8:11

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O Movimento Passe Livre (MPL) voltou às ruas na quinta-feira (12) para protestar contra o aumento das passagens de ônibus e metrô mensais.

Saindo da Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, descendo pela Rebouças, a manifestação parou nos Jardins, nas proximidades da casa do prefeito João Doria, bloqueada pela PM.

Maria Cecília tem 19 anos e é de Belo Horizonte, Minas Gerais. Participou de manifestações organizadas pelo MPL em sua cidade natal e resolveu se juntar aos protestos em São Paulo.

“O temor que eu sinto agora é o mesmo que os meus pais tiveram na ditadura e a luta deveria ser de todos”. diz. Ela é militante do movimento estudantil e acha que todos deveriam se preocupar com os idosos que terão suas aposentadorias cortadas.

Evandro tem 26 anos e estava próximo da bateria da Juventude do PT. “Estou aqui contra os aumentos, incluindo o do próprio bilhete unitário, que pode pular de R$ 3,80 para mais de R$ 4. Acho que a melhor autocrítica que a esquerda pode fazer é ir até as escolas, se aproximar do povo e realmente não perder essa conexão. Infelizmente agora, em janeiro, as pessoas ainda acham que estão de férias”, acredita.

“Nós somos estudantes de medicina e viemos dar corpo ao ato porque o direito à cidade determina a saúde da nossa população. Somos estudantes de faculdades do Brasil todo e sentimos a necessidade de barrar o aumento”, declarou Douglas Vinicius Pereira, que tem 22 anos. Ele mostrou que o MPL tem apoio em massa de universitários.

“Fizemos isso porque estamos num congresso profissional da área, junto com o Movimento Passe Livre. Não confiamos em Doria e nem na direita conservadora. Sabemos que eles sequestraram as ruas, mas faremos a autocrítica e retomaremos este espaço que é nosso”.

Todos concordaram que as mobilizações precisam voltar às ruas para ganhar a mesma força de quase quatro anos atrás. Fred, que tem 23 anos e é do movimento, disse que é natural a direita provocar seus opositores. “Infelizmente é um povo que não se informa o que acontece e que desqualifica as pautas”.

A nova vereadora do PSOL, Sâmia Bomfim, estava presente no ato e comentou o conflito entre esquerda e direita nas ruas. “Eles realmente entraram no espaço de disputa. Você tem a sigla MBL para competir com MPL, tem o caso do Vem Pra Rua, que roubou a nossa palavra de ordem, entre muitos outros. A gente tá num momento de reorganização da esquerda depois do que foi o golpe”, disse.

O MPL avançou para as proximidades da casa do prefeito Doria, na Avenida Brasil dentro dos Jardins, e entregou um troféu de “Aumento Inovador”. Como o político se recusou a receber a premiação, o comandante da PM Cangerama levou a estatueta em forma de catraca.

“Pra mim é indiferente ganhar essa premiação. Como profissional há 22 anos, isso me é indiferente”, respondeu entre risadas o policial militar quando perguntamos se ele gostou de levar o troféu de João Doria Jr.

O fim do dia teria sido pacífico e até engraçado se, no caminho de retorno até a Avenida Paulista, a PM não tivesse disparado uma bomba na Augusta, em plena subida.

O estouro e o cheiro do gás lacrimogêneo foram seguidos de uma correria dos black blocs pela Oscar Freire e três vidraças de bancos quebradas.

Eles não conseguiram botar fogo em lixo na rua. Ninguém foi preso.

“Essa polícia ficou andando de helicóptero e me acordou com luz na minha cara. Eu perdi meu emprego na Oscar Freire por sete anos e hoje durmo na rua. Vendia doces e a PM sob a gestão Haddad me tirou o emprego que me ajudava a pagar o aluguel de R$ 600 no bairro do Paraíso. Essa é que é a verdade”, disse o morador de rua Luiz Carlos, que correu das bombas e reclamou da situação com policiais na Avenida Paulista.

Luiz não sabe que a PM responde a Alckmin, não a Fernando Haddad.

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