A dupla gaúcha que passou dos limites. Por Moisés Mendes

Atualizado em 9 de agosto de 2025 às 20:51
Os deputados Marcel Van Hattem (Novo) e o Tenente-Coronel Zucco (PL) e  em motim na Câmara dos Deputados. Foto: Reprodução

Depois de Getúlio, Jango e Brizola, temos o coronel e o sargento. O bolsonarismo é destruidor da grama onde pisa e até de famas construídas a muito custo. O Rio Grande do Sul ficou famoso por ser a terra de Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, Pinheiro Machado, Flores da Cunha, Assis Brasil, Jango e Brizola, alguns com reconhecimento internacional.

Agora, os gaúchos têm o coronel Zucco (PL) e o ‘sargento’ Marcel Van Hattem (Novo) na vitrine da política nacional. A patente para Van Hattem é apenas figurativa, para marcar sua obediência à liderança hierárquica do coronel.

Os dois foram protagonistas do motim na Câmara. Afrontaram as normas, o cerimonial e as regras de convivência da casa e destruíram o que restava de autoridade a Hugo Motta. Na dupla, é Zucco quem se impõe diante de Van Hattem.

Os gaúchos estão na lista de 15 deputados que devem ter suas condutas analisadas pela corregedoria da Câmara. Mas foi Van Hattem, ao sentar-se na cadeira de Motta e dizer que dali não sairia, quem mais teve a performance destacada nos jornais.

Van Hattem foi um bom sargento, submetido às ordens do seu comandante. Zucco é o chefe da segunda geração de líderes do bolsonarismo gaúcho e de toda a extrema direita do Estado.

Tirou do trono do poder estadual Onyx Lorenzoni, o então deputado que recomendou a Bolsonaro para que fosse em frente e se habilitasse a disputar a presidência em 2018.

Figura sempre ao lado do hoje tornozelado, Onyx ganhou projeção no primeiro time do bolsonarismo e ocupou quatro ministérios. É quem traduzia para Bolsonaro situações que o chefe não conseguia entender.

O ex-poderoso deputado dos gabinetes do Planalto e da copa e da cozinha do Alvorada perdeu o poder do comando do PL e da extrema direita gaúcha para Zucco.

Foi assim que a turma de Zucco, no comando absoluto do bolsonarismo, impôs ao prefeito Sebastião Melo (MDB), na chapa para a reeleição em 2022, a candidata a vice, Betina Worm.

A tenente-coronel Betina Worm. Foto: Reprodução/GZH

Betina, também do PL, é também coronel do Exército. Ajudou Zucco a militarizar o bolsonarismo gaúcho e a fragilizar o poder civil de Onyx. A vice é quem submete o emedebista Melo ao controle do bolsonarismo saído dos quartéis.

Zucco e Van Hattem vêm se fortalecendo como as duas principais vozes de Bolsonaro Rio Grande do Sul. Por isso aspiram chegar aos dois principais cargos em disputa em 2026. Zucco como pré-candidato já consagrado ao governo e Van Hattem como nome a uma das duas vagas ao Senado.

No motim na Câmara, os dois chegaram ao topo, com exposição pública para todo o país. Emocionaram e fidelizaram suas bases. Disseram a Bolsonaro e aos manés de 8 de janeiro que estão com eles contra o Supremo.

Assumiram compromissos com os deputados sob investigação do STF, por envolvimento com os desvios de emendas, de que tentarão empurrar seus casos para as gavetas dos foros paroquiais das suas cidades.

O coronel Zucco, seu sargento Van Hattem e outros 13 deputados conseguiram o que pretendiam. Mais do que defender Bolsonaro, eles desejam trançar ainda mais suas raízes ao extremismo que os sustenta e os elege.

O plano, que uma hora pode falhar, de tão manjado, é o de fidelizar pela radicalização o lastro bolsonarista inflexível, para a partir daí expandir seus alcances à direita não extremista.

Mas Zucco e Van Hattem talvez tenham passado dos limites. Mesmo que reforcem a amarração à base que os elege, podem ter assustado a velha direita e fortalecido o lulismo de Paulo Pimenta, o nome preferencial do PT para o governo do Estado ou o Senado.

Zucco e Van Hattem se empolgaram demais com o encantamento de coadjuvantes gritões do bolsonarismo nacional, agora transformados em protagonistas de um levante que desmoralizou o próprio Congresso.

Eduardo Bolsonaro queria apenas um soldado e um cabo para fechar o Supremo. Tem um coronel e um sargento. O jipe seria o do general Braga Netto, mas no momento está sem embreagem.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/