A dupla utilidade do genro de Silvio Santos para Bolsonaro. Por Fernando Brito

Atualizado em 11 de junho de 2020 às 9:14
Jair Bolsonaro, Fábio Faria e Silvio Santos

PUBLICADO NO TIJOLAÇO

POR FERNANDO BRITO

A escolha do deputado Fábio Faria, genro de Silvio Santos, para ocupar o Ministério das Comunicações é mais que uma generosidade com o velho empresário de comunicações, embora isso, claro, esteja no “pacote”, tanto que a Secretaria de Comunicação da Presidência – sem qualquer razão técnica para isso – tenha sido anexada à pasta.

É óbvio que a máquina do SBT vai ser – e já vinha sendo, desde o início deste governo – escandalosamente colocada a serviço de Bolsonaro e isso foi admitido, sem qualquer cerimônia, pelo próprio presidente:

“Vamos ter alguém que, ele não é profissional do setor, mas tem conhecimento até pela vida que ele tem junto à família do Silvio Santos. A intenção é essa, é utilizar e botar o ministério pra funcionar nessa área que estamos devendo há muito tempo uma melhor informação”.

Maior confissão de que a máquina pública se amasiará de um concessionário para fins políticos não poderia haver.

Mas há outra finalidade na escolha do genro , além desta.

Fábio é de família política – é filho do ex-governador Robinson Faria, do RN – e hábil em costurar apoios parlamentares, o que o levou a eleger-se 2° vice-presidente da Câmara dos Deputados, da qual é hoje o terceiro-secretário.

É mais um sinal de que Bolsonaro considera certo que, mais cedo ou muito mais cedo ainda, um pedido de impeachment ou uma denúncia criminal irá a exame dos parlamentares e de que ele precisa de mais do que apenas um terço dos votos para livrar-se disso sem tornar-se ainda mais fraco.

Fraco até mesmo para um golpe.

O outro movimento, também em pleno curso, é demolir as bases políticas que os deputados possam ter junto a governos estaduais e, por isso, é bom que dê-se crédito à pitonisa Carla Zambelli nos seus anúncios de que novas operações policiais contra governadores serão desfechadas e, com o padrão de governantes que se elegeram na esteira de Bolsonaro em 2018 não é difícil achar bases críveis para isso.

Bolsonaro entrou em “modo sobrevivência” e que ninguém se espante com o quanto ainda descerá ao fisiologismo, possivelmente com a manutenção e a ampliação das concessões de rádio e televisão, até pouco tempo um dos melhores pitéus que se poderia servir a políticos.

Esperem e verão.