A eleição que pode ser decidida pela homofobia. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de outubro de 2022 às 8:56
Onyx Lorenzoni e Eduardo Leite — Foto: Reproduçã

Por Moisés Mendes

Sempre disseram que João Doria era um bolsonarista enrustido, até se autoproclamar como Bolsodoria em 2018. Falavam o mesmo de Eduardo Leite. Mas os dois foram oportunistas, e não bolsonaristas.

Não tinham histórico de bolsonarista, nem jeito e nem vocação para bolsonarista. Na eleição de quatro anos atrás, jogaram-se nos braços de Bolsonaro, mesmo que não percebessem reciprocidade.

Elegeram-se, por orientação de pesquisas e de marqueteiros, como se fossem aliados de Bolsonaro.

Leite foi mais longe e juntou líderes e quadros da extrema direita para se eleger e para governar. Na pandemia, tiveram a chance de saltar fora.

Doria virou a calça apertada, na definição de Bolsonaro, e ficou pelo caminho como presidenciável.

Eduardo Leite, que irritou o bolsonarismo com suas medidas protetivas contra a Covid, é agora o gay atacado por Onyx Lorenzoni, o adversário ao governo do Estado que diz oferecer aos gaúchos a chance de terem uma “primeira-dama de verdade”.

Quando ainda estava no armário, Leite cortejou o mesmo contingente organizado e declaradamente homofóbico e racista. Fora do armário, virou inimigo e passa a ser atacado por ser gay.

É esse o nível da campanha no Rio Grande do Sul, onde Daniel Krieger, Tarso Dutra, Sinval Guazzelli e outros líderes da direita mantinham, durante a ditadura – antes mesmo da abertura –, para consumo externo, relações de cordialidade com os adversários.

O fascismo passou a dominar as zonas de imigração europeia do Estado e agora sustenta eleitoralmente condutas radicais inimagináveis.

Leite é atacado no que Onyx considera seu ponto fraco: tem um namorado, e não uma esposa que possa apresentar como primeira-dama.

A política gaúcha, tão exaltada no século 20 como modelo a toda Terra, brinca de casinha. A escola de Damares Alves infiltrou um falso debate sobre costumes e fundamentalismo religioso num Estado de tradicionalismos e heroísmos fanfarrões.

Onyx induz os gaúchos de bota e bombacha a rejeitarem o político que não tem uma prenda para apresentar aos visitantes.

Uma patroa a serviço do marido patrão, como manda a hierarquia dos Centros de Tradições Gaúchas, há muito tempo transformados em redutos de reacionarismo e machismo militarista. Uma ajudadora, na definição de Michelle Bolsonaro.

Para que sua performance de macho seja irretocável, nessa sexta-feira Onyx aperfeiçoou o perfil. Depois de um debate na Rádio Gaúcha, Leite estendeu-lhe a mão para a despedida.

Onyx negou-lhe o cumprimento (sequência de fotos ao alto, de Mateus Bruxel, de Zero Hora). O aperto de mão, tão caro à política e à diplomacia, que ganha importância quanto praticado por contrários, é um gesto cantado em prosa e verso pelos gaúchos.

Por que Onyx negou-se a pegar a mão de Eduardo Leite, se essa não é uma afronta comum na política do Estado?

Leite teve o aperto de mão negado por ser gay? É uma pergunta inevitável.

Desde quinta-feira, houve um aumento nas manifestações de militantes de esquerda nas redes sociais, que abandonaram a neutralidade e irão apoiar Leite.

A homofobia pode decidir, para qualquer lado, o segundo turno no Rio Grande do Sul.

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/