A escolha de Marina

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 12:53
Ela
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Publicado na BBC Brasil.

 

Em seu discurso após a derrota no 1º turno, a candidata Marina Silva, terceira colocada com 21,32% dos votos, disse que sua posição no segundo turno será tomada “conjuntamente com os partidos de sua aliança”.

Mas ela reforçou que via sua candidatura como uma alternativa ao status quo político, dando a entender que não se sentiria confortável dando apoio a uma ou outra grande força política do país.

“Não quero andar para trás nem ficar patinando no mesmo lugar”, disse ela. “Ao longo de nossa campanha, defendemos uma mudança qualificada, e os eleitores que votaram em nós estão comprometidos com isso e com nosso programa de governo. Estes continuarão a ser nossos pólos no segundo turno”.

Para analistas ouvidos pela BBC Brasil, os sinais mais fortes são de que ela pode se declarar neutra, a exemplo do que fez na eleição anterior, quando era candidata do PV e obteve 19,33% dos votos no primeiro turno. O segundo turno foi disputado entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Dilma venceu com 56,05% dos votos.

O cenário mais improvável, segundo os analistas, seria um eventual apoio ao PT, partido do qual foi militante até 2009.

“Ela foi muito agredida pela campanha de Dilma. A relação entre o PT e Marina se desgastou demais”, disse à BBC Brasil o cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. 

Marco Aurélio Nogueira, cientista político da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), acredita que um apoio ao PT no segundo turno seria um “atestado de incoerência” por parte de Marina.

“Depois de tudo que aconteceu na campanha, se ela apoiar o PT decretará sua morte na política”, diz Nogueira.

Para Rafael Cortez, da consultoria Tendências, os duros ataques contra Marina por parte da campanha de Dilma terão um grande peso nesta decisão.

“Em política, nunca podemos dizer que algo é impossível, mas, em diversos momentos, ela se mostrou muito triste com o presidente Lula. Acho difícil que isso seja resolvido em tão pouco tempo”, afirma Cortez.

Já a possibilidade de um eventual apoio à campanha de Aécio Neves é menos remota, na opinião de alguns analistas.

O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, acredita que, “se a raiva prevalecer”, por conta dos ataques sofridos durante a primeira parte da campanha, “Marina apoiará Aécio”.

Pereira, da FGV-RJ, também acredita numa aproximação entre Marina e o PSDB neste segundo turno.

“A propensão é ela apoiar o Aécio. Já existia um acordo informal entre Eduardo Campos e Aécio de apoio no segundo turno. Marina vem honrando os acordos firmados por Campos, por isso, seria delicado ela assumir uma neutralidade”, afirma.

Já o cientista político Antonio Carlos Mazzeo, da Unesp, não acredita que Marina veja necessidade de honrar acordos do PSB para o segundo turno.

“Marina não é o PSB, ela é Rede e continuará a viabilizar seu próprio partido. Parte do PSB sequer fez campanha para ela no primeiro turno. E uma parte do partido, principalmente a ala comandada pelo seu presidente, Roberto Amaral, é lulista”, afirma Mazzeo.

‘Posição difícil’

Para Nogueira, da Unesp, as chances maiores são de Marina se manter neutra nesta etapa da disputa.

“Ela está numa posição difícil, porque também foi muito atacada pelo PSDB. Vai ter muita dificuldade em dar este apoio”, diz Nogueira.

Cortez, da consultoria Tendências, acredita que, para se manter coerente com seu discurso de campanha, Marina provavelmente não apoiará nenhum dos dois partidos ainda na disputa.

“Ela diz que seu projeto visa superar a polarização entre PT e PSDB, e isso aponta para uma nova neutralidade no segundo turno”, afirma Cortez.

“Ela será assediada principalmente por Aécio Neves, mas só acho que este acordo será costurado se ele a convencer de que será mais fácil colocar a Rede de pé sem o PT no poder e se ele usar a aprovação do fim da reeleição, que estava entre as propostas dela, como uma moeda de troca.”

O cientista político Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia, também aposta na neutralidade de Marina.

“Não é do perfil dela apoiar um partido ou o outro. Ela vai se manter reticente e, no fim, acredito que não embarcará em nenhuma canoa”, afirma Gomes.

“Ela diz que não acredita na política atual, que os quadros que se apresentam nos outros partidos são antigos. Agora, não faria sentido subir no palanque do PT ou do PSDB.”