A esquerda não vai salvar Eduardo Leite de novo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 16 de agosto de 2025 às 8:44
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD). Foto: Reprodução

Eduardo Leite foi incluído em um grupo que a Folha definiu como “governadores de direita”. E Celso Rocha de Barros, um dos principais comentaristas do jornal, classificou Leite como “oportunista”.

Essa foi a chamada de capa da Folha em que Leite aparece como direitista:

“Evento com empresários em SP reuniu governadores de direita cotados à Presidência”.

Logo abaixo, a notícia informava:

“Promovido pelo banco BTG Pactual na manhã desta quarta-feira (13), o painel ‘Unindo Forças Pelo Agro’, voltado para discutir ações em prol do agronegócio, reuniu os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD)”.

A Folha informa que os quatro trataram dos planos para a sucessão de Lula, atacaram o presidente e “citaram crises econômica, institucional e moral para justificar os ataques ao petista”.

A imagem mostra um painel de discussão no AgroForum, com cinco homens sentados em cadeiras em um palco. Eles estão vestidos de forma formal e há um público visível na parte inferior da imagem. O fundo é azul com o nome 'AgroForum' e o logotipo da BTG Pactual. O ambiente parece ser um evento de conferência.
Os governadores Ratinho Jr. (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Eduardo Leite (PSD-RS) em evento com empresários em SP. Foto: Marceli S. Camargo

Imaginem esses quatro aí falando de crise moral. Alguns dias antes, Celso de Barros havia escrito na Folha:

“Oportunistas como Gilberto Kassab ou Eduardo Leite fizeram o seguinte cálculo: Jair vai ser preso, a democracia está salva. Já é seguro criticar o Xandão. Com isso, eu saio na frente na corrida pelos votos dos bolsonaristas em 2026”.

Leite é colocado ao lado de Kassab como exemplo dos espertalhões que montam estratégias para fidelizar o eleitorado de Bolsonaro.

O mesmo Leite que se apresentava, mas não se apresenta mais, como um político de centro-esquerda, de um certo PSDB social-democrata que nunca chegou a existir, apesar de ter sido esse o pretexto para sua fundação.

Leite se reúne com PSD e confirma pré-candidatura à Presidência
O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Foto: Reprodução

Leite elegeu-se com vínculos com o fascismo bolsonarista, em 2018, conseguiu se reeleger porque a esquerda gaúcha precisava evitar Onyx Lorenzoni (com quem disputou o segundo turno), e agora se prepara para disputar o Senado.

Leite abandonou o ninho tucano, depois de muito ameaçar desde 2022 e de tentar passar a perna em João Doria. E achou que agora se habilitaria a disputar as atenções de Kassab, o novo dono do PSD, para a Presidência.

Mudou-se para o PSD certo de que pegaria logo a janelinha. Mas quem está na janela, e aparece nas pesquisas (nas quais Leite não é citado) como nome do PSD, é Ratinho Júnior, outro bolsonarista que “fuma Bolsonaro, mas não traga”.

E essa é a situação do sujeito que tem pose de sobrinho fofo, mas joga no time do extremismo. Um cara de direita, como diz a Folha, e oportunista, como informa Celso de Barros.

Ele sabe que não tem condições de disputar a Presidência, mesmo que fosse por outro partido, e que seu projeto é o mesmo de Sergio Moro em 2022: ganhar visibilidade como pretenso nome à sucessão de Lula para, depois, se candidatar ao Senado.

Como são duas as vagas, e a esquerda deve eleger um nome — que pode ser o deputado Paulo Pimenta —, a outra vaga ficaria, pela direita, entre Leite e Marcel Van Hattem.

Ressurge o dilema: será preciso votar em Leite para evitar de novo a eleição de um bolsonarista, como aconteceu em 2022? Desta vez, parece que não cola.

Leite não terá os votos das esquerdas para impedir que Van Hattem se eleja senador. O meu, com certeza, não será dele. Leite deve tentar sobreviver eleitoralmente na sua turma, e não como erva daninha que, no desespero, é salva pelas esquerdas.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/