
A carta aberta a uma figura pública, quando alguém, por egocentrismo exacerbado, se acha no direito de simular um recado com uma lição a um interlocutor conhecido por todos, é um dos truques mais rasos de usuários de uma certa literatice colegial.
Elio Gaspari é o professor dessa gente no Brasil, com o recurso das cartas em que a alma de alguém que já foi importante psicografa uma aula para uma figura de hoje, com referências a eventos dos séculos 18 e 19.
Geralmente é subliteratura moralista da pior qualidade. Cartas públicas são coisas antigas, são galochas parnasianas. E são na essência uma manifestação de arrogância misturada a ressentimentos e outros impulsos.
O autor de cartas públicas acha que pode sugerir uma certa intimidade com o destinatário e dizer: olha só como sou capaz de expor meus sábios conselhos a esse cara.
E esse cara às vezes pode ser Lula, como o escolhido pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o famoso Kakay, a quem ele enviou uma carta que na verdade dirigiu aos amigos, para dizer que o presidente teria se isolado e virado outra pessoa.
E a carta pública para os amigos vazou para todo mundo. Entenderam? Uma carta pública, escrita para ser um recado público, mas que seria também privada e que vaza. Para ficar como recibo daquela conversa do eu avisei.
Que cada um decida se é isso mesmo ou se não é. Mas a forma escolhida já é uma coisa simplória, nesse mundo em que a marca da direita, e não da esquerda, é essa simploriedade que reduz tudo a bobagens e sínteses às vezes infantis.
Uma cartinha para Lula, de um jurista da esquerda e numa hora dessas, para se queixar porque não vem sendo recebido ou ouvido?
Não dá. É coisa de programa de auditório que envia cartas ao Papai Noel. Até o fogo amigo das esquerdas teve queda de qualidade.
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