Quer saber a diferença entre uma estadista e um político ordinário?
Compare as declarações de Angela Merkel às de Temer e Serra a respeito da vitória de Donald Trump.
Michel, na quarta à tardinha, veio com suas platitudes, numa mistura de medo e poltronice como só ele é capaz de proporcionar.
“Quando alguém assume o poder, o novo presidente terá que levar em conta aspirações de todo o povo”, falou à rádio Itatiaia. “Tenho certeza de que as coisas lá irão muito bem”.
Para a Jovem Pan, conseguiu lembrar que “o Brasil só pode tirar o chapéu e cumprimentar”.
Ainda enviou — adivinhe — uma carta para o chefe. Deseja a ele “pleno êxito” e afirma estar “certo de que trabalharemos juntos para estreitar ainda mais os laços de amizade e cooperação entre os povos”.
“Eu tenho dito que a relação do Brasil com os EUA e os demais países é institucional, ou seja, de Estado para Estado”, escreveu no Twitter. Como assim?!? Alguém achou que era outra coisa?
A torcida era por Hillary Clinton — de resto, compreensível. O chanceler José Serra, com sua costumeira fanfarronice, verbalizou essa preferência há algumas semanas.
“É preciso ser muito masoquista para ficar imaginando que o Trump vá ganhar”, declarou o Careca (segundo a Odebrecht) ao programa Canal Livre. Em julho, classificou um possível triunfo do empresário de cabelo cor de laranja como um “pesadelo”.
O valente ministro estava um doce de coco na coletiva no Itamaraty. Citando o pobre Didi, meia da seleção brasileira em 58 e 62, gênio batizado “Príncipe Etíope” por Nelson Rodrigues, veio com um papo furado de que “treino é treino, jogo é jogo. O treino é a campanha. O jogo começa agora”.
“Nas democracias, as decisões do eleitorado se respeitam”, arrematou, inacreditável.
Nunca o termo “acoelhados” foi ilustrado de uma maneira tão eloquente. O Serra que distribui caneladas na testa da Venezuela e dos “bolivarianos” era um velhote apanhado em flagrante furtando maconha hidropônica da vizinha.
O oposto da atitude de Merkel e seus diretos. O chanceler alemão Frank-Walter Steinmeier notou que “devemos esperar tempos difíceis”. Seu vice, Sigmar Gabriel, chamou Trump de “pioneiro de um novo movimento internacional autoritário e chauvinista” em entrevista.
Merkel, por sua vez, foi altiva e deu um recado claro em pronunciamento para a imprensa. “A eleição teve confrontos difíceis de digerir”, começou.
“A Alemanha e a América estão unidas por valores – democracia, liberdade, respeito pelo estado de direito, dignidade das pessoas independentemente da sua origem, cor da sua pele, religião, gênero, orientação sexual ou visões políticas. Tendo estes valores como base, ofereço-me para trabalhar de perto com o futuro presidente dos EUA.”
Na campanha, Trump criticou duramente as posições de Merkel com relação aos refugiados. Em setembro, recuou e definiu-a como sua “líder mundial favorita”.
Merkel sabe identificar um demagogo fascistoide quando vê um deles pela frente. Ele a respeitará no cenário internacional.
O Brasil, e isso se estende, obviamente, aos seus atuais governantes, não foi mencionado pelo republicano e nem pela democrata nos últimos meses e, provavelmente, seguirá ignorado. Não é difícil imaginar o que Trump fará com a cartinha do colega.