A “estreia triunfal” do ex-colunista da Veja no Globo. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 2 de dezembro de 2016 às 17:32
Triunfo
Triunfo

Conheço bem Lauro Jardim, o ex-colunista do Radar da Veja que se transferiu há pouco, com estardalhaço, para o Globo.

Fui eu que o levei para a Abril.

Eu dirigia a Exame, e nosso chefe do Rio, Guilherme Barros, ia sair. Guilherme, o famoso Jovem Gui, indicou Lauro.

Uma conversa com Lauro e fechamos negócio.

Sei seus pontos fortes e fracos, por chefiá-lo por um bom tempo antes que ele se transferisse para a Veja.

O maior ponto fraco é a vontade de agradar quem paga seu salário.

Isso ficou claro em sua “estreia triunfal” no Globo. A definição grandiloquente é de Jorge Bastos Moreno, radialista e colunista do Globo.

Moreno é daquelas almas puras que acreditam que a Globo presta um formidável serviço para os brasileiros.

A “estreia triunfal” de Lauro era, como seria de esperar, um tiro em Lula.

Mais especificamente, no filho Lulinha.

Num alegado furo dado pelo jornal como manchete, Lauro escreveu que o delator Fernando Baiano citara Lulinha como beneficiário de dinheiro sujo.

A “notícia”, dada a perseguição movida contra Lula pela mídia, se propagou instantaneamente por jornais e revistas.

Era um “disse-que-disse”, mas mesmo assim é o suficiente quando se trata de atacar Lula.

Alguém da Lava Jato vazou para Lauro.

Esta é mais uma praga, aliás, do jornalismo de hoje: pessoas da Lava Jato vazam coisas, frequentemente disparatadas, e os repórteres utilizados viram heróis, colecionadores de “furos”. Diego Escosteguy da Época, o Kim Kataguiri das semanais, é um caso exemplar.

Claro que furo mesmo é obter informações como as que constam do dossiê suíço sobre Eduardo Cunha, mas isto dá trabalho.

Mas nem o “disse-que-disse” de Lauro estava certo. (Tenho para mim que o que realmente levou o Globo a levar Lauro foi interromper as frequentes notas que ele dava sobre o colapso do Ibope da Globo.)

O depoimento de Baiano simplesmente não cita Lula. Vagamente, sem nenhuma informação precisa, fala numa nora de Lula. Mas também não aparece o nome dessa nora. (Lula tem três.)

Em suma: Lauro cometeu uma barbaridade, e acertadamente está sendo processado por Lulinha.

Se ele não for mais cuidadoso, em breve poderá ter problemas com as indenizações dos processos.

Também Romário o está processando por conta de uma das maiores estupidezes que a Veja publicou nos últimos tempos: a falsa conta do ex-craque na Suíça.

Em situações normais, Lauro estaria com o novo emprego seriamente comprometido, e com problemas sérios de imagem.

Provavelmente seria demitido.

Mas como tudo é permitido quando o alvo é Lula nada vai acontecer com ele, exceto talvez um rubor quando se olhar no espelho, além de sorrisos escondidos de escárnio de jornalistas sérios que trabalham com ele.

Num plano maior, o Globo se vale, também, da complacente legislação brasileira para erros da mídia.

Na Dinamarca, os erros têm que ser reparados, rapidamente, no mesmo espaço em que ocorreram.

No caso, o Globo teria que dar uma manchete assim: “Lulinha não é citado pelo delator”.

Mas estamos no Brasil, e não na Dinamarca. E é possível que, ainda agora, o bondoso Jorge Bastos Moreno tenha a estreia de Lauro no Globo como algo “triunfal”.