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A extrema direita infantilizou o Brasil. Por Moisés Mendes

Bolsonaristas durante os atos golpistas de 8 de janeiro. Foto: Reprodução

 

O tio do zap que faz campanha contra a vacina é um fenômeno brasileiro para muito além dos desvios provocados pela combinação de ignorância, ódios, crueldades e brutalização. O tio da zap que desconfia de tudo e sabota a ciência é também um ser infantilizado. Seus líderes são infantis.

O fascismo brasileiro tem essa peculiaridade verde-amarela. As falas e as atitudes da extrema direita, do negacionismo ao golpismo, são colegiais.

Como observou em uma das sessões da CPI do Golpe a relatora Eliziane Gama. Diante das mentiras do coronel Jean Lawand Junior, que estava depondo por causa da militância no golpismo, a senadora disse:

“O senhor não pode infantilizar essa comissão”.

Um coronel do Exército, não um coronel qualquer, mas um alto oficial que coordena projetos estratégicos no QG do Estado-Maior, dizia que era um democrata e que nunca conspirou pelo golpe.

Não era alguém depondo sobre algo controverso, que pode oferecer versões enviesadas. Era um golpista dizendo que deseja ver Bolsonaro apaziguar o país.

Um golpista apaziguador insistia na bobagem de que era o contrário do que todo mundo sabe que ele de fato vinha sendo, desde que foi flagrado tramando para derrubar Lula.

O coronel é infantil, não pelos argumentos, mas pela forma como os construiu e os apresentou à CPI.

Pela capacidade de se enxergar diante de pessoas que considera infantis. Pela afronta à inteligência média do brasileiro.

O coronel é tão infantil quanto seu líder Bolsonaro, que voltou a dizer à Folha que é um imbrochável. Que, se tiver que fugir para os Estados Unidos, será lá garoto-propaganda para vender imóveis.

Bolsonaro disse mais a repórter Monica Bergamo, quando falou do sucesso dos seus 90 dias em Orlando, onde se refugiou para esquecer a derrota e coordenar o golpe.

“Fui numa hamburgueria e encheu de gente. Eu enchi a pança e não paguei nada”, disse o sujeito que ainda chama os filhos de garotos.

Há uma criancice no comentário que combina sucesso de público com o ambiente de uma hamburgueria, com pança e comilança.

Os quatro anos de Bolsonaro no poder foram de falas e ações infantis. Como são infantis muitas das falas de Sergio Moro, que é mais do que um simplório.

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Sérgio Lima

Deltan Dallagnol é tão infantil que, ao tentar mostrar o apoio que recebe pelo celular, passou a exibir em vídeos as entradas de PIX.

O PIX é a sua obsessão como expressão de solidariedade. Dallagnol queria R$ 2,5 bilhões da Petrobras para criar uma fundação.

E desejava ficar rico fazendo palestras, E agora comemora a dinheirama do PIX que recebe sem parar. É uma relação infantil com o dinheiro.

Na mesma CPI em que o coronel Lawand depôs, o deputado Evair Vieira de Melo, do PP do Espírito Santo, disse que um dia os esquerdistas vão se defrontar com demônio.

“O problema da esquerda é com o diabo”, disse o deputado. Mas o diabo dele, o que apareceu ali na CPI, é um coitado, um diabo mal-enjambrado, usado como recurso de metáfora infantil. Até o diabo da extrema direita é um diabo de segunda classe.

No mesmo dia, na mesma comissão, o deputado Nikolas Ferreira, do PL de Minas, comentou o esforço dos que tentam desvendar o golpe e disse, como deboche:

“Ah, porque se o golpe tivesse acontecido… se minha avó tivesse dente, ela chupava uva”.

O diabo de um, a avó que chupa uva de outro. As figuras de retórica deles são precárias. Faltam recursos elementares para a elaboração de um raciocínio básico, uma provocação.

O enfrentamento da pandemia foi cruel, criminoso e infantil. O golpe foi um desatino infantil, com o incitador fora do país, sem liderança, sem coordenação, sem voz de comando.

Os manés que invadiram Brasília e quebraram Planalto, Congresso e Supremo, atacando mesas, cadeiras, obras de arte e enfeites, foram terroristas movidos por impulsos infantis.

Os que conseguem juntar argumentos para provar que a Terra é plana são infantis. Eles se excitam com a ciência do terraplanismo como as crianças se divertem com experimentos nas creches.

O bolsonarismo infantilizou as relações humanas. O tio do pavê ou pra cumê está ainda mais infantilizado.

Muitas das crenças pretensamente religiosas, que permitem visões em goiabeiras, são infantis.

São ilusões e farsas construídas por mentes adultas, mas também infantis, doentias e perversas.

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”

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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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Moisés Mendes

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