A extrema direita viu no espelho o autor da chacina em Campinas e não sabe o que fazer. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 3 de janeiro de 2017 às 10:57

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O artigo sobre a chacina em Campinas que escrevi teve uma reação intensa por parte de direitistas indignados, aqui no site e nas redes sociais.

A maioria dos comentários era de xingamentos pesados (tudo, absolutamente tudo o que você imagina). Também havia uma ou outra ponderação e acusações dos mais variados teores, sendo a de “matéria paga” (!?) relativamente frequente.

Como o DCM tem moderação, muitos desses ataques foram deletados. Reproduzo umas das mensagens que recebemos, que serve como exemplo:

“Quem foi o culpado disso ter chegado onde chegou? A própria esquerda lixosa enquanto promoviam o ódio entre diferentes grupos sociais camuflado de luta conta preconceito e discriminação. Colocando todo homem como um machista, misógino e estuprador em potencial, os brancos como racistas e elitistas, etc. Eu só lamento que esta chacina não tenha acontecido em uma escola ou universidade ocupada por militantes vagabundos e maconheiros.”

 

Como esse horror aconteceu? “A culpa, caro Brutus, não está em nossas estrelas, mas em nós mesmos”, disse Cássio em “Júlio César”.

A carta de Sidnei para o filho — que acabaria sendo executado com dois tiros pelo pai — é uma compilação de estupidezes facilmente encontráveis no Facebook.

Sidnei era um maníaco fascista como tantos outros. Ele deu o passo adiante que seus cúmplices não dão. Se dependesse do sujeito cuja manifestação postei acima, ele pecou somente no endereço.

Vai virar um mártir dessa turma. Se houvesse mais como eles — e haverá, infelizmente —, não teríamos tantos maconheiros, esquerdopatas, vagabundos, defensores dos direitos humanos, feministas, veados e vadias por aí.

O Brasil e os valores dos cidadãos de bem foram destruídos por essa gente e homens como Sidnei se imolaram tentando salvá-los. Ele reagiu, na verdade.

Você ouviu esse discurso na boca dos terroristas do Estado Islâmico, com um ou outro sinal trocado.

Sidnei e amigos vivem no medo, na paranoia e no ódio. Alimentaram-se de uma dieta de indigência mental que lhes deu um sentido na vida e, agora, na morte.

O psicólogo Daniel Khneman, Nobel de Economia, fala no livro “Thinking Fast And Slow” que “uma maneira confiável de fazer as pessoas acreditarem em falsidades é a repetição frequente delas, porque a familiaridade não é facilmente distinguível da verdade”.

Ficou claro no day after da tragédia que o que realmente incomodou os direitistas é que eles se olharam no espelho e viram a face de Sidnei Remis de Araújo — e ainda não sabem muito bem o que fazer com isso.