A “fábrica de contratos” do Banco Master e BRB para justificar desvio de R$ 12 bilhões

Atualizado em 19 de novembro de 2025 às 9:31
Logo do banco Master. Foto: Reprodução

A operação que levou à prisão de Daniel Vorcaro revelou um esquema de fraudes de proporções inéditas envolvendo o Banco Master e o Banco de Brasília (BRB). Segundo a investigação, as cúpulas das duas instituições “fabricaram” pelo menos 20 títulos de crédito inexistentes para justificar a transferência de R$ 12,2 bilhões do banco estatal para o Master entre janeiro e maio de 2025.

Documentos analisados por técnicos do Banco Central indicam que todos os contratos eram “falsificações grosseiras”, produzidos às pressas após o BC exigir comprovação das operações. De acordo com Malu Gaspar, do Globo, uma leva inteira foi autenticada no mesmo dia e no mesmo cartório de São Paulo, em abril de 2025.

As suspeitas surgiram após o anúncio, no fim de março, de que o BRB pagaria R$ 2 bilhões por 58% do Master, mantendo o controle com os atuais donos, numa espécie de socorro financeiro diante da fragilidade de liquidez da instituição de Vorcaro. Dos R$ 12,2 bilhões movimentados, R$ 6,7 bilhões foram lastreados por contratos falsos e R$ 5,5 bilhões classificados como prêmios.

Inicialmente, a justificativa apresentada envolvia supostas carteiras de crédito consignado ligadas a duas entidades baianas: Asseba e Asteba, associações de servidores com poucos filiados e sem histórico de operações desse tipo.

Para o BC, a fraude era evidente: além de não terem lastro, as entidades não apresentavam qualquer movimentação bancária. A versão foi rejeitada.

Daniel Vorcaro, dono do banco Master. Foto: Reprodução

A partir daí, o Master e o BRB criaram uma solução paralela: compraram uma empresa de fachada chamada sx016, rebatizada como Tirreno, responsável por gerar novos contratos falsos entre abril e maio. Em depoimento, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, assumiu integralmente a autoria da operação e admitiu que ela não foi comunicada a nenhuma instância interna do banco, tampouco teve análise técnica.

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal pediram sua prisão, mas a Justiça autorizou apenas o afastamento. As prisões preventivas e temporárias da Operação Compliance Zero atingiram exclusivamente dirigentes, funcionários e ex-funcionários do Master, acusados de gestão fraudulenta e prestação de informações falsas ao mercado.

Durante a auditoria, o BC também descobriu que o BRB vinha enviando recursos ao Master ao longo de 2024 sem qualquer justificativa formal. Em entrevista, Paulo Henrique Costa afirmou ter comprado R$ 8 bilhões em créditos antes mesmo de anunciar a aquisição do banco, valor que agora levanta suspeitas de repasses sem lastro.

A dimensão dessas transferências só será conhecida com a liquidação do Master e a quebra de sigilos do BRB e da instituição de Vorcaro. O BC ainda identificou outro conjunto de falsificações: cem contratos de crédito consignado com pessoas físicas, supostamente usados para tentar comprovar a existência de carteiras adquiridas.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.