
O Datafolha ouviu 2.004 eleitores, antes do tarifaço de Trump, para saber o que os brasileiros acham do tarifaço: 89% acham que o tarifaço vai prejudicar a economia.
Mas achavam antes de saberem o que seria o tarifaço, que representou no fim um recuo do neofascista americano.
Outro detalhe que não é tão detalhe. Somando os contingentes dos que estão mais ou menos informados ou mal informados ou que não sabem nada sobre o tarifaço, o percentual é de 68%.
Os que se consideram bem informados sobre o tarifaço são apenas 32%. A Folha ouviu brasileiros, antes do tarifaço, para que opinassem sobre o tarifaço, e descobriu que 68% não sabem o que é o tarifaço.
E a pesquisa, feita nos dias 29 e 30, antes do anúncio do tarifaço, como o jornal destaca, é a manchete agora na capa da Folha online sobre o que os brasileiros pensam do tarifaço.
Entenderam? A Folha sabia o que os eleitores não tinham a obrigação de saber: que a qualquer momento Trump anunciaria o tarifaço.
E sabia que poderiam acontecer surpresas, que foram confirmadas com a lista de exceções.
Mas mesmo assim o seu Datafolha foi a campo, antes do tarifaço, para que as pessoas opinassem sobre um tarifaço que ainda não existia.

A Folha faz o que já fez outras vezes. Convida o brasileiro a dizer o que pensa sobre fatos que nem os chamados especialistas decifram. Só para ouvir ‘sentimentos’, ou seja, para registrar palpites soltos e sem relevância para a compreensão do que estamos vivendo.
Quem vai salvar o jornalismo de pesquisas alarmistas que se antecipam a coisas que não aconteceram e perguntam às pessoas sobre o que nem o jornalismo sabe direito o que é?
(Reproduzo a seguir o trecho da pesquisa que esclarece: a consulta foi realizada antes do tarifaço. Esse é o texto: “A pesquisa foi feita nos dias 29 e 30 de julho, antes da publicação do decreto que oficializou a sobretaxa de 50% e detalhou a lista quase 700 produtos isentos. O Datafolha entrevistou 2.004 pessoas com mais de 16 anos em 130 municípios. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos”.)