A Faria Lima virou sócia da bandidagem e ficou encabulada. Por Moisés Mendes

Atualizado em 20 de novembro de 2025 às 8:32
Daniel Vorcaro ao lado da logo do banco Master. Foto: Divulgação

A Faria Lima foi, nos últimos anos e quase sempre durante os governos do PT, não a rua-símbolo dos bancos em São Paulo, mas um totem sagrado da sabedoria da macroeconomia sob o ponto de vista do mercado financeiro.

A Faria Lima falava. Ganhou manchetes quase diárias quando do longo debate do arcabouço fiscal – que está de volta – e foi presença permanente, com vozes anônimas impositivas, na abordagem de metas de inflação, juros e pautas daí derivadas.

A Faria Lima, sem rosto, sem fontes, como se fosse uma abelha-rainha do mercado, dizia o que era bom e ruim para o país. Achou que o golpe contra Dilma era bom, assim como o encarceramento de Lula. Desde a Operação Carbono Oculto, de outubro, não é mais assim.

A Faria Lima das fintechs que lavam dinheiro para o PCC é a mesma de Daniel Vorcaro, que cuidava das poupanças do centrão. Os bancos, que em outros tempos eram manchete em maus momentos por quebradeiras clássicas, agora são vizinhos do mundo da bandidagem explícita.

Não há mais manchetes alertando que a Faria Lima pede corte de gastos sociais, que Lula subestima a inflação, que o governo vai implodir no ano que vem, que não aumentem o imposto dos ricos. A Faria Lima é agora reduto de facções criminosas sócias do mercado e de líderes da direita.

Em 1995, quando quebrou e sofreu intervenção do Banco Central, o Banco Nacional empregava mais de 40 mil pessoas. O Master tinha agora exatos 515 funcionários. Muitas das fintechs que lavam dinheiro sujo têm meia dúzia de empregados, mas movimentaram mais de R$ 90 bilhões do crime organizado em um ano, até agosto de 2025.

O mercado bancário, que continua abrigando um Itaú e um Bradesco, acolheu novos players com nomes esdrúxulos – como T10 Bank, 2Go Bank, InvBank, BK Bank, 4TTBank, Soffy.

David Irikura/TV Globo

Polícia Federal na Avenida Faria Lima durante operação contra o PCC, em agosto. Foto: David Irikura/TV Globo

O Master de Daniel Vorcaro operava lá da Faria Lima, de onde saíam as ameaças a Lula, sem os nomes dos autores, sem nenhuma identificação, apenas com o alerta de que os recados eram do mercado.

Lula não era apenas patrulhado pelos que sabiam o que deveria ser feito. Era quase coagido a fazer o que a Faria Lima mandava e resistia do jeito que dava às chantagens dos donos do dinheiro.

Podem dizer que grandes bancos que davam forma ao que seria a Faria Lima não têm ligação com o PCC e seus sócios nesse mercado. Sim, mas todos, por índole, por vocação para a ação predatória e especulativa, todos fazem parte da mesma família.

As fintechs associadas ao PCC são as irmãs mais novas dos bancões. Todos sabiam o que as irmãs faziam, ou no mínimo desconfiavam, mas elas deveriam ser aceitas porque eram assim mesmo, meninas atrevidas e sem limites do novo mercado do século 21.

Os bancos analógicos sobreviventes, que ainda ocupam seus latifúndios na Faria Lima, são do tempo em que os parceiros quebravam e comprometiam a imagem do setor por envelhecimento generalizado.

Eram os velhos bancos que sempre dependeram da proteção de respeitáveis coronéis da política. Hoje, as fintechs dependem da blindagem do tenente Guilherme Derrite, a mando de Tarcísio de Freitas. Um homem da Rota é o protetor da Faria Lima.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/