A fé que importa para os patriotas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 20 de novembro de 2022 às 7:31
Ato golpista contra resultados das urnas
Foto: Reprodução

Por Moisés Mendes

Disseram a Bolsonaro pouco antes da eleição que ele iria vencer. Quanto mais a eleição se aproximasse, mais aumentariam suas chances de derrotar Lula e as pesquisas. Bolsonaro tinha certeza de que venceria.

Dizem agora a Bolsonaro que ele será beneficiado por um golpe. Os emissários estão misturados aos mesmos que anunciavam a vitória contra Lula, e eles não são poucos.

Os emissários dizem a Bolsonaro o que ele quer ouvir. E apostam que os bloqueios nas estradas e os acampamentos na frente dos quartéis podem crescer ou, mesmo que continuem como estão, levar a um fato inesperado.

Por isso Bolsonaro levará até o final de dezembro a aposta no golpe, recolhido no Alvorada, enquanto os prepostos cuidam do que pode ser feito.

Mantêm a turba mobilizada na base e não desestimulam os grupos de tios influentes, alguns com algum dinheiro e outros milionários, que patrocinam a arruaça.

A erisipela, que ninguém duvida que exista e que incomode, é um bom pretexto para que o derrotado fique em casa olhando tudo de longe.

A reportagem de Sarah Teófilo e Rodrigo Rangel no Metrópoles, com as movimentações de políticos na casa de Brasília usada como comitê de Bolsonaro, mostra o general Braga Netto ativo na manutenção do ânimo das tropas.

O general transita entre a casa do comitê e o Palácio da Alvorada. É o leva-e-traz. Informa aos que vão à casa, é informado, vai até Bolsonaro e mantém esse vaivém enquanto for possível.

Por enquanto, quase tudo é possível em toda parte. É descarada e despreocupada a desenvoltura dos que agem nas estradas, nas ruas e em Brasília.

Na sexta-feira, Braga Netto foi filmado conversando com apoiadores, na saída do Alvorada, e declarou sem baixar o tom da voz:

“Vocês não percam a fé, tá bom?”

E completou:

“É só o que eu posso falar para vocês agora”.

Agora, é isso. Mas o general sugeriu que teria mais o que dizer logo adiante. E assim o golpismo se mantém atento.

O cenário vai se alterando, com alguma repressão e com as listas de golpistas enviadas a Alexandre de Moraes, mas a prevalência é da inércia da maioria das polícias, dos governadores e de parte do Ministério Público.

Há mais do que a aventura de uma empreitada urgente. Há uma tentativa de criar base para o que seria a sobrevivência do bolsonarismo, se o golpe não der certo.

No curto prazo, os patriotas esgarçam a afronta à democracia, à Constituição e a Alexandre de Moraes e apostam no imponderável, num conflito grave e até em mortes e rupturas.

No médio prazo, se a situação continuar a mesma, os líderes transformam o que hoje é uma turba em militantes permanentes de uma erisipela golpista.

A ideia da perenidade independe da sobrevivência ou não de Bolsonaro, mesmo que sua morte política, por falta de força física, seja provável.

Enganam-se os que, como fez o Estadão em manchete, têm dado aos acampamentos um caráter de vigília por Bolsonaro.

São quase inexistentes faixas, cartazes e bandeiras com imagens de Bolsonaro nas aglomerações.

Bolsonaro é usado, inclusive pelos que levam e trazem informações sobre o que acontece nas trincheiras, porque ele ainda é o líder, mesmo que alquebrado.

Para os patriotas e manés, o que importa é apostar nos militares, e não na figura do derrotado. Braga Netto sabe que essa é a fé que importa.

Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/