Ontem mesmo, a posse do novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segóvia, foi capaz de provocar nos mais lúcidos ânsia de vômito.
Sua companheira Tatiana Kalil organizou um almoço de comemoração, com direito a champanhe e maquiagem na cara do marido.
Isso me lembra as pomposas celebrações da família real portuguesa em sua colônia – até hoje somos colônia –, onde à plebe reservava-se ao direito de, calada e perplexa, assistir.
Se tantos dos membros dos três poderes comportam-se como realeza, e nós nada fazemos, não somos povo, somos plebe.
Tatiana, que é DJ, diz que sentiu-se uma noiva, só faltava o buquê.
(Suspiro de impaciência)
Amiga, senta aqui: casamentos são celebrações íntimas e pessoais. No seu casamento, você poderia – sem parecer ridícula e fútil, como agora parece – tacar um pozinho de arroz na cara do seu noivo e beber champanhe.
A posse do seu companheiro em uma instituição como a Polícia Federal, por sua vez – veja bem, mais uma vez, explicando o óbvio – não é a sua festa particular.
Você não é uma noiva, não é uma primeira dama e não é – não mesmo – uma rainha. É apenas a fútil companheira do fútil diretor da PF no fútil Brasil.
A uma curta distância dali, inclusive, uma criança desmaiava de fome na escola. Crianças desmaiam de fome na escola todos os dias.
Embora isso não seja muito da sua conta, imagino, gosto de lembrar: uma só garrafa do seu champanhe decerto alimentaria essa criança por semanas.
Mas você não liga, como não liga a Marcelinha, como não ligam os homens e mulheres que fazem parte da patética pseudo realeza do Brasil.
Em um país sério, comemorações de posse são sutis em tempos de crise – crise pra quem? – mas, considerando que não vivemos em um país sério, a posse de Segóvia foi uma verdadeira festa particular da alta cúpula da Republiqueta Federativa do Brasil, como foi o jantar oferecido por Temer aos parlamentares, e como têm sido a vida dos políticos, grandes juristas, grandes empresários e não tão grandes delegados.
E nós?
Continuamos assistindo, perplexos.