A Folha pôs os manifestantes na fogueira e agora chama os bombeiros. Por Mauro Donato

Atualizado em 6 de setembro de 2016 às 15:47

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É como alguém jogar gasolina na fogueira e depois sair gritando ‘FOGO’ e implorando pelos bombeiros. Desde a última sexta-feira a Folha de S. Paulo vem, por meio de seus editoriais e também de alguns colunistas, incentivando a repressão policial nos protestos. Clamando por ‘firmeza’ e cobrando justiça aos que rotula de fascistoides, psicóticos, provocadores, vândalos. Sapateando em cima do que definiu como ‘elite vermelha’.

O resultado é o que estamos vendo. Manifestantes gravemente feridos, prisões arbitrárias e escandalosamente tiranas, baseadas em suposições, jornalistas agredidos e censurados. Curioso como se repete o roteiro de 2013 quando, insuflada igualmente por editoriais irresponsáveis dos grandes jornais, a Polícia Militar foi pra cima das manifestações e acabou vitimando inclusive jornalistas ‘da casa’. Daí tudo mudou.

Agora temos novamente o PIG invertendo a cronologia dos acontecimentos para orientar a opinião pública e condenar os protestos contra Michel Temer. Em suas narrativas, as ‘depredações’ sempre vêm antes e a ação policial depois. A Folha (sobretudo seus repórteres de rua) sabe que não é isso que ocorre em 99% das vezes. Eles estão lá, estão vendo, sabem quem atacou primeiro. Sabem muito bem, assim como nós, reconhecer um infiltrado, um P2. E agora, no editorial de hoje, vem pedir ‘Basta de confronto’? Dona Folha, acho que a senhora não entendeu foi nada. Ao menos duas manifestações da semana passada tiveram como destino a frente da sede do jornal. Manipular a percepção da população sobre a realidade funciona sobre alguns desavisados mas atiça a ira de outros.

Seus colunistas arrogantes que classificam os simpatizantes da esquerda como ‘subletrados do marxismo de hoje’ agem como os tais provocadores do caos. Esse tipo de postura da Folha é que propicia ainda que o coronel Henrique Motta faça piada com a estudante Deborah Fabri que perdeu a visão do olho esquerdo ao ser atingida por fragmentos de uma bomba lançada por sua tropa. “Quem planta rabanete, colhe rabanete”, postou ele nas redes sociais. Podemos dizer o mesmo para a Folha, Estado, Globo e afins?

É por pedir mais empenho na base do custe o que custar que menores de idade estão sendo detidos e mantidos incomunicáveis, como numa prisão norteamericana para terroristas. ‘Com eles foram encontrados paus, estilingues e pedras’. Aqui é bom lembrar que o acampamento da FIESP já foi denunciado por conter armas. A polícia foi lá muito a contra gosto, recolheu paus e facas e ninguém foi preso. Os campistas do golpe entregaram o arsenal rindo.

“Urge por fim a esse roteiro deplorável”, vaticina o editorial de hoje. Mas quem escreve o roteiro? Quem fomenta um cenário e depois cobra por atitudes enérgicas? Em seus arroubos de conservadorismo, a Folha bota para tocar outra vez a velha pergunta sobre quem financia e dá treinamento aos black blocs. Há alguns anos a revista Época inventou um ‘líder’ e um quartel general aos moldes das FARC. Precisou depois inventar sua morte para enterrar a mentira junto. O personagem surgiu no fatídico 7 de setembro de 2013, um dia inteiro de violentos confrontos nas ruas. Sabe que dia é amanhã?