A fonte de catuaba na festa do filho de Doria e o corte no passe dos estudantes. Por Mauro Donato

Atualizado em 10 de julho de 2017 às 12:05
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Ao final de sua gestão, João Doria será homenageado pelo conjunto da obra. Em duas cerimônias distintas. Como o melhor prefeito que a cidade já teve (prêmio patrocinado e conferido pelos ricos), e como o pior de todos os tempos (entregue pela população mais pobre).

Doria se esforça para, com suas medidas, dar uma no cravo e outra na ferradura. Mas de tão competente, por vezes consegue agradar os ricos e desagradar os pobres com uma cajadada só.

No último final de semana, Doria alterou regras do Passe Livre Estudantil, que na prática reduzem o direito dos estudantes. Eles agora só terão direito a duas cotas de passes por dia, cada uma delas com validade de duas horas e direito a embarque em até quatro ônibus no máximo. Antes, os alunos  podiam usar o bilhete durante as 24 horas do dia e tinham direito a até oito embarques.

Mais outra mudança, a utilização do passe só pode ocorrer nos dias úteis. Claro, apropriar-se da cidade, nem pensar. A cidade é dos ricos. Pobres só devem ir ao trabalho ou escola e depois voltarem para a periferia e de lá só darem as caras novamente na segunda-feira.

E para alunos de escolas particulares? Nada muda, aqueles que têm o bilhete estudantil permanecem pagando meia passagem.

Por que Doria se importaria com estudantes de escolas públicas? Em seus discursos, vive repetindo ter sido ele mesmo um aluno dessas instituições. Mas seus filhos nunca. Seu filho Johnny (João Doria Neto) estudou desde 1996 até 2011 na St. Paul’s School, cuja mensalidade é de cerca de 7 mil reais.

Depois graduou-se em Administração de Empresas pela FAAP (também particular). Deve ter valido a pena pois é em nome de Johnny que está o comando acionário das empresas que compõem o Grupo Doria, desde que o pai foi eleito prefeito.

No final de semana anterior ao da alteração das regras do Passe Livre, Johnny fez uma festa na mansão dos pais, para comemorar o 23º aniversário. Copos estampados com o símbolo de Johnnie Walker (gracejo com seu apelido) e uma fonte no jardim que fornecia doses de catuaba. Mas milionário engajado é outra coisa. A festança contou com show de MC Pikeno, autor da música “Sou da Favela, Ela é do Asfalto”.

Quanto custou o convescote de Johnny não se sabe. Mas a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes informou que espera obter uma economia de R$ 70 milhões com a garfada na mobilidade dos estudantes.

João Doria já torrou 68% do total reservado para este ano para subsidiar a despesa com as gratuidades e as integrações nos ônibus municipais. Sim, o prefeito já gastou R$ 1,2 bilhão dos R$ 1,7 bilhão que estavam no orçamento, curioso ele agora falar em economia.

E não se pode esquecer que em campanha ele prometera não aumentar a tarifa. Não aumentou no bilhete unitário, mas aumentou o preço da integração e está retirando conquistas importantes de gratuidades.

Há pouco mais de quatro anos, um aumento de tarifa foi revogado nas chamadas Jornadas de Junho. Um transporte caro e excludente, violentamente superlotado, que sob Doria não sofrerá melhorias, sua preocupação é com a classe proprietária de automóvel.

Tirou exclusividade para ônibus no viaduto Nove de Julho, travou guerra contra ciclistas, atendeu ao clamor branco e loiro pela volta dos limites mais altos de velocidade nas avenidas. O número de mortes disparou, claro, mas o prefeito não dá o braço a torcer.

Por se tratar de não apenas um representante, mas um legítimo integrante da elite, Doria reage de maneira explosiva quando criticado por essas medidas. Quando recebeu flores de uma ciclista em nome dos mortos, arremessou-as no chão – agindo contra seu próprio ‘Cidade Linda’.

Ainda em campanha, prometia cercar com grades a cracolândia. Elegeu-se, e o que se viu foi uma selvageria sucedida de total fatal falta de rumo.

Doria administra com os olhos no Twitter e no Facebook. É um dos principais tucanos a querer distância de Temer e a pregar que o PSDB pule do puleiro que está sujo. Suas metas nada têm a ver com as necessidades dos estudantes nem dos menos favorecidos. Ele quer popularidade e tronos maiores.