A foto que não deveria existir. Por Moisés Mendes

Atualizado em 22 de julho de 2022 às 6:23
José Arruda (camisa listrada), irmão de Marcelo Arruda, com Bolsonaro, Otoni e Magno Malta. Foto: Clauber Cleber Caetano

Por Moisés Mendes

A foto de um irmão de Marcelo Arruda com Bolsonaro não mostra apenas o constrangimento a que o governo submeteu o parente de uma vítima das pregações do sujeito que incentiva a eliminação de adversários políticos.

José Arruda posou ao lado de Bolsonaro, do ex-senador Magno Malta e do deputado Otoni de Paula. José é o único que sorri na foto.

A imagem carrega muitas controvérsias. Foi nesse encontro que Bolsonaro pediu desculpas por ter dito que eram petistas os dois homens que aparecem chutando a cabeça do assassino já caído.

A verdade é que os dois homens que apareceram nas câmeras de segurança do clube são bolsonaristas.

Mas o que esse pedido de desculpas significa para o irmão do trabalhador petista morto pela fúria do bolsonarismo? Nada.

Uma controvérsia move o senso comum: o irmão de um assassinado por um bolsonarista pode procurar Bolsonaro? Pra quê?

O que o irmão da vítima foi fazer ao se encontrar com Bolsonaro, se o próprio Bolsonaro disse que o crime não tinha sido político?

Ora, Bolsonaro o chamou para que o ajudasse a melhorar sua imagem, sempre associada à morte.

Mas, se é irmão da vítima, José pode fazer o que bem entende das suas decisões, sem se importar com o que os outros pensam, porque afinal não são parentes?

Claro que pode. Mas o irmão de Marcelo Arruda ficou exposto ao julgamento público ao ter ido beijar a mão do chefe do terror da extrema direita que incentiva mortes como a de Marcelo.

A morte de Marcelo passa a ser parte da memória coletiva, pela força simbólica assumida por seu assassinato. A dor pela morte do guarda pelo fascista não é uma dor só da família.

A memória de Marcelo é uma memória coletiva porque compartilhada por todos os que não têm nenhum parentesco com ele, mas de alguma forma estavam representados na sua festa de aniversário.

O fim de Marcelo passa a ser parte da memória política dos democratas. Sua morte foi politizada porque ele morreu por ser petista, e não por uma desavença qualquer.

Marcelo foi morto fazendo política, numa festa temática de exaltação de seu líder. Foi atacado por ser lulista. Foi atacado por um fascista por ser democrata.

A família deixa de ser a única responsável pela preservação da memória do assassinado.

E todos passam a ser julgados por seus atos públicos. Foi político o gesto do irmão de visitar o chefe do ódio, da violência e da morte.

Essa foto é um desastre, sob todos os pontos de vista. É uma imagem que não deveria existir.

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PESQUISAS

Muita gente não leva a sério pesquisas que não sejam do Datafolha. É de fato sempre a pesquisa mais esperada.

Vejam as datas de publicação dos últimos quatro levantamentos do instituto.

16 de dezembro

24 de março

26 de maio

23 de junho

Notem que o Datafolha vem reduzindo o espaço entre as pesquisas.
Espera-se que a próxima saia logo, para que se tenha uma melhor noção dos efeitos dos últimos acontecimentos.

Se o Datafolha mantivesse o espaçamento entre as últimas pesquisas, a hora seria agora.

Mas não há notícia do registro da próxima consulta, por enquanto.

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