“A gente continua sendo seguido por agentes infiltrados. Mas não tem arrego”: manifestantes presos falam ao DCM. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de setembro de 2016 às 10:53

 

Érico Sant’anna Perrella e Gabriel Cunha Risaffi foram presos pela PM no domingo, dia 4, dia de Fora Temer, numa operação policial que começou mal e terminou pior ainda. Nem tanto para eles, mas para a PM de São Paulo.

Eles foram seguidos de helicóptero, cercados e capturados no Centro Cultural Vergueiro. O grupo tinha no total 26 pessoas. De lá, seguiram para o DEIC, onde passaram a noite num corredor.

“Os policiais ficaram o tempo inteiro nos xingando, humilhando e intimidando. Ficamos incomunicáveis. Um policial mais velho falava que ia fazer conosco o que fazia na ditadura: pegar um cabo de vassoura, passar arame farpado e enfiar no nosso c…”, disse Érico ao programa do DCM na TVT.

Segundo ele, o grupo formado no Facebook ia “garantir a segurança”. “A gente tenta juntar o povo mais exaltado e acalmar os ânimos, pois se a coisa estoura eles acabam ferrando a legitimidade do ato”, diz.

Os rapazes respondem por associação criminosa e corrupção de menores. Na audiência em que foram soltos, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo apontou que o Brasil não “não pode legitimar a atuação de praticar verdadeira ‘prisão para averiguação’ sob o pretexto de que estudantes poderiam, eventualmente, praticar atos de violência e vandalismo em manifestação ideológica. Este tempo, felizmente, já passou”.

Érico identificou um infiltrado entre eles. “Uma pessoa que estava com a gente e sumiu. Ele era conhecido como Balta Nunes. Monitora grupos sociais de direita e de esquerda. Dá em cima de todas as meninas desses movimentos. Sempre estava nos momentos de quebra quebra”, afirma.

O capitão do Exército Willian Botelho, aka Balta Nunes, infiltrado
O capitão do Exército Willian Botelho, aka Balta Nunes, infiltrado

 

De acordo com o jornal El Pais, trata-se de Willian Pina Botelho, capitão do Exército, bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais.

Gabriel conta que, no flagrante, arrumaram uma mochila com uma barra de ferro para colocar ao lado dele, numa tentativa de incriminá-lo. “Foi o mesmo cara que deu mata leão numa menina de 17 que estava conosco”, diz. “Ficamos detidos com policiais bombados da Garra com armas letais”.

Eles dizem que não são ligados ao PT ou a nenhum outro partido. Gabriel se declara “anarquista”. Não receberam sanduíche de mortadela. A causa é o “Fora Temer”.

A lei antiterrorismo não foi aplicada no caso. Para o advogado Hugo Albuquerque, “o estado aplicou a lei penal maneira arbitrária”.

A truculência da PM nas últimas semanas resultou no afastamento do coronel responsável pelos protestos, Hugo Motta, o inconsequente que conseguiu fazer piada com uma estudante que teve o olho perfurado. “Quem planta rabanete colhe rabanete”, escreveu nas redes sociais.

“A intenção é deixar a gente com medo”, diz Gabriel, que tem vivido com a impressão de estar sendo seguido. “A polícia não tem discernimento”, diz Érico. Se a intimidação deu resultado? “Não tem arrego”, resume ele.

Abaixo, alguns trechos da entrevista.