O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse em uma reunião gravada clandestinamente pelo deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que “a gente nunca sabe se estão gravando”.
A declaração indica que o ex-chefe do Executivo desconfiava que estava sendo gravado em reuniões.
A transcrição do áudio, cujo sigilo foi derrubado nesta segunda-feira (15) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aponta que durante uma reunião o ex-presidente e aliados discutiram estratégias para proteger dados de uma investigação contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e deixar isso “fechadíssimo”.
A gravação faz parte de um inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga o uso da Abin para espionagem ilegal de desafetos do ex-mandatário. Segundo a corporação, o entorno de Bolsonaro tentou identificar quem na Receita Federal estava investigando o caso, possivelmente para interferir no processo.
Em um trecho da gravação, a advogada Luciana Pires mencionou a busca por informações de funcionários da Receita. “Tá certo. E, deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa. Que não estamos procurando favorecimento de ninguém”, disse Bolsonaro.
Em outubro de 2020, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou Flávio, seu ex-assessor Fabrício Queiroz e outros 15 investigados pelos crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita no esquema da “rachadinha”.
Na ocasião, Flávio Bolsonaro foi acusado de chefiar uma organização criminosa que recolhia parte dos salários de seus ex-funcionários em benefício próprio. O senador, por sua vez, nega ter cometido os crimes.
Segundo o MP, ao menos 13 assessores repassaram parte de seus salários para Queiroz, totalizando mais de R$ 2 milhões em depósitos identificados.