“A Globo apagou a Dilma”: o discurso de Lula e de intelectuais no lançamento de um livro de resistência ao golpe. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 22 de junho de 2016 às 22:42
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“Ficou muito claro que este golpe teve ajuda da mídia”, disse Lula no vídeo

“Este livro é a prova de que a sociedade brasileira não abre mão da democracia. Ficou muito claro que este golpe teve ajuda da mídia. Depois de derrubar, a Rede Globo simplesmente apagou a Dilma. Essa imprensa não representa as mulheres, os negros, os pobres, as minorias. Parabéns a todos que fizeram e contem comigo”, disse Lula em um vídeo gravado por seu Instituto e exibido no lançamento.

A Casa de Portugal, no bairro da Liberdade em São Paulo, lotou e abrigou na noite de segunda-feira (20) o lançamento do livro “A resistência ao golpe de 2016”. Organizada por Carol Proner, Gisele Cittadino, Marcio Tenenbaum e Wilson Ramos Filho a obra foi publicada pela Editora Canal 6, dentro do Projeto Editorial Praxis.

O livro traz 103 artigos de 104 autores, incluindo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o jornalista Luis Nassif e os políticos Paulo Teixeira, Wadih Damous, Tarso Genro e Jandira Feghali.

A obra tem 450 páginas e pode ser comprada pelo valor promocional de R$ 55 na internet.

Alguns autores estavam no evento de lançamento de deram suas impressões sobre o livro e o golpe. O trabalho foi desenvolvido do final de 2015 até maio deste ano, quando Dilma Rousseff já estava afastada da presidência.

“Fizemos um livro no calor da luta, diante do triste papel do STF. Os artigos dão conta de todas as articulações políticas que culminaram no golpe e o que foram as pedaladas fiscais. É um relato de pessoas de áreas diferentes para entender a nossa resistência”, explicou Carol Proner, organizadora da obra.

Entre os presentes, o discurso contra a Globo e os grandes veículos de mídia foi forte.

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A plateia

“Quando Dilma foi reeleita, eu acreditei que os sites que fazem a contranarrativa poderiam deixar de formar um bloco, com cada um pensando por si. A ação autoritária das elites voltou a nos unir”, disse Nassif em um discurso rápido.

Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres, deu nome aos bois: “Esse golpe é da Rede Globo, da revista Veja, da Folha de S. Paulo. Foi preparado todos os dias e todas as horas. Mídia golpista antigamente era uma licença poética. Hoje vemos a imprensa internacional toda denunciando isso, incluindo o jornalista Glenn Greenwald do Intercept”.

Artistas e intelectuais compareceram em peso no evento. A cineasta Tata Amaral destacou o quanto existe de união cultural contra a direita e ressaltou que estamos cada vez mais vendo filmes nacionais. O guitarrista Edgard Scandurra, da banda de rock Ira, enviou um vídeo de apoio aos movimentos antigolpistas.

O ator Pascoal da Conceição fez uma performance ao vivo imitando o poeta Mario de Andrade. Ele recitou o “Ode ao Burguês” realçando a crítica sincera e insultuosa aos ricos.

Anita Freire, esposa do falecido Paulo Freire, afirmou que o golpe não derrubou somente um governo que diminuiu a luta de classes, mas “destroçou os sonhos” de quem combateu a ditadura militar. Ela também homenageou o acadêmico Florestan Fernandes e o economista Celso Furtado no seu discurso.

Os movimentos sociais rechearam os discursos na noite de segunda-feira. Tamires Gomes Sampaio, vice-presidente da UNE, ressaltou a ironia do golpe ser guiado por José Serra, um homem que presidiu a organização estudantil na época do golpe de 64. E falou sobre a perseguição de Marco Feliciano ao apoiar a criação de uma CPI para perseguir a União Nacional dos Estudantes.

Yasmin Cascone, representante da Rede Feminista de Juristas, disse que é necessária uma autocrítica da esquerda pela falta de políticas que protejam as mulheres, mas ressaltou que o golpe contra Dilma é machista. “Criamos um espaço para discutir o atendimento da delegacia da mulher e outras pautas urgentes e cotidianas. A rede, no entanto, pretende articular medidas legislativas para politizar o feminismo a nível nacional, inclusive contra o golpe”, disse a advogada ao DCM.

O lançamento, depois de se tornar um protesto público com as palavras de Lula, acabou numa fala do deputado Paulo Teixeira. “O livro não pode ser apenas o registro do golpe, mas o instrumento para derrubar um governo ilegítimo. Queremos lançar outro em agosto, quando essa situação mudar”, completou

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O livro