A Gol quer voar na banguela

Atualizado em 16 de abril de 2013 às 15:48

A ideia de bonificar pilotos que pouparem combustível é um crime.

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A proposta da companhia aérea Gol de bonificar pilotos e comissários de bordo mediante economia de combustível deveria ser analisada, reanalisada e, preferencialmente, descartada. Por óbvio.

A empresa que nasceu com o espírito low-cost e amarga prejuízos praticamente ano sim, ano não, desde 2007 (mais de R$ 1,5 bi só no ano passado) e que ainda este ano passará a cobrar até pelo espaço das pernas, não sabe mais o que fazer para sair do vermelho.

A partir de junho, o saquinho de amendoim custará R$ 5,00; o kit sanduíche, batata e refrigerante será vendido por R$ 13,00; poltrona com espaço “civilizado” custará R$ 30,00 a mais na passagem. Grátis no voo, só água mineral e máscara de oxigênio. Vista da janela depende do clima.

O que poucos sabiam é que desde fevereiro deste ano a companhia aérea estabeleceu metas a serem batidas visando reduzir o custo mais representativo em sua atuação – o combustível – e promete recompensar financeiramente seus funcionários no atingimento do objetivo. Os pagamentos serão semestrais.

Ainda que os procedimentos técnicos não sejam de alto risco e tampouco novidade – algumas grandes companhias adotam as mesmas ações – atrelar as medidas a uma recompensa financeira é extremamente perigoso. Por óbvio.

E as justificativas da Gol para implementá-las não convencem.

A Gol utiliza como defesa o argumento de que as metas não são individuais, ou seja, não será na base do ganha mais quem gasta menos gasolina. Isso, no raciocínio da companhia, evitará que o piloto se arrisque. Bobagem, só funcionaria se as equipes fossem fixas. O comportamento mais prudente – e pouco rentável em termos de bônus coletivos – de algum piloto, viajará mais rapidamente que os aviões da Gol no diz-que-diz entre funcionários e sabotar o colega é a mais previsível das ações corporativas.

A empresa alega também possuir um sistema de acompanhamento dos pilotos com a finalidade de verificar se estão atuando dentro dos padrões de segurança. Quando ficam fora dos padrões, são convocados para treinamentos. Perfeito, mas só funciona para aqueles que desrespeitarem os padrões e ainda assim conseguirem aterrissar. Afinal, nem todos que infringem regras de segurança durante o voo voltam. Há uma definição precisa do que é ser um bom piloto que certa vez ouvi do comandante Rolim Amaro durante uma sessão de fotos: “Bom piloto é aquele que possui o mesmo número de decolagens e pousos”. Por óbvio.

Imaginar que ninguém colocaria em risco a própria vida por uns trocados a mais é desconhecer por completo a natureza humana repleta de ganâncias e a companhia se contradiz ao usar desse argumento. Não é pelo dinheiro que ela está incentivando as práticas?

Nenhuma das companhias que adotam estes métodos (United, American Airlines, Lufthansa, etc) o faz condicionado a algum tipo de premiação. Aquelas que em algum momento o fizeram, constataram um aumento de atitudes imprudentes e abortaram a ideia. Há mais a ser considerado: quando esses procedimentos visando economia são rotineiros, o treinamento constante é fundamental. E treinamento custa. Muito. Oras, se a companhia está querendo economizar, quem acredita que economizará numa ponta para gastar na outra? Não haveria vantagem, concorda?

Por que não economizar em publicidade? Ou em qualquer outra área menos vital? Se não há mais onde cortar, se a empresa já está nesse estágio, é porque não tem mais condições de operar.

Há um consenso entre passageiros. Tão logo o avião levanta voo, pensam: “Bom, agora é relaxar pois não há mais o que fazer”. Sem dúvida é raro sobreviver a uma queda. Mas enquanto se está no chão, é prudente escolher com quem se irá voar.