Como Toffoli pôs fim ao terceiro turno

Atualizado em 19 de dezembro de 2014 às 20:29
Terminou o terceiro turno
Terminou o terceiro turno

Tenho horror à retórica esclerosada e pomposa dos juízes do STF, um sentimento que se intensifica com aquelas togas medonhas que remetem a eras medievais.

Dito isto, o ministro Toffoli merece aplausos de pé pelas palavras simples, claras, breves e extraordinariamente oportunas com as quais encerrou a cerimônia de diplomação de Dilma.

“Não haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral”, disse ele.

Foi sem dúvida o pronunciamento mais importante na carreira de Toffoli – sem os rococós intermináveis que são a marca dos votos dos juízes da Suprema Corte.

Ao avisar que não haveria terceiro turno, na condição de presidente do TSE, Toffoli na prática matou o terceiro turno que o PSDB pateticamente vinha tentando alimentar.

O capítulo mais grotesto dessa tentativa se deu pouco antes das palavras de Toffoli, quando o site do PSDB anunciou que estava pedindo à Justiça a diplomação de Aécio e não de Dilma.

Está certo que Aécio acredite na versão de que “perdeu ganhando”, um dos mais batidos prêmios de consolação já inventados pelos perdedores da humanidade.

Mas daí a reivindicar a presidência com um déficit de quatro milhões de votos em relação a Dilma é a chamada coisa de louco.

Como o bizarro pedido do PSDB foi feito pouco antes da diplomação, criou-se, entre os mais ingênuos adeptos de Aécio, a ilusão de que a qualquer momento da cerimônia pediriam a Dilma que se levantasse e cedesse o lugar a Aécio.

Quase tão bem-vindas quanto as palavras de Toffoli foi o silêncio de Gilmar Mendes, que decidiu não emprestar seu formidável prestígio a Dilma na diplomação.

Gilmar fez questão, no entanto, de que seu nome que inspira multidões fosse pronunciado.

Pediu a Toffoli que avisasse, publicamente, que ele não comparecera porque assumira um compromisso anterior.

Claro que alguém como Gilmar tem muitos compromissos mais importantes do que a diplomação presidencial.

Toffoli não disse onde estava Gilmar, mas juntando fios soltos é possível especular que ele estivesse mediando as negociações entre Obama e Raul Castro para a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos.

Outra hipótese é que estivesse ajudando Putin a lidar com o dramático problema da desvalorização do rublo.

Que seria do mundo ocidental, e mesmo oriental, sem Gilmar?

Mas, mesmo sem ele, a noite de ontem teve uma dimensão que outras diplomações jamais tiveram.

E o responsável por isso foi Toffoli, justo Toffoli, tão criticado nas últimas semanas por Nassif por estar à frente de uma trama golpista de cunho jurídico ao lado de Gilmar.

Toffoli poderá fazer mil, um milhão de pronunciamentos no restante de sua carreira.

Nenhum deles, no entanto, terá a grandeza épica do de ontem.

Quanto ao não diplomado, minha mãe, com sua elegância intransponível,  me mataria se eu dissesse o que penso. Mas uma imagem que circula pela internet representa exemplarmente o papel de Aécio.

Peço licença a mamãe para reproduzir o que diz a imagem. É um diploma igual ao que Dilma recebeu. E está dito ali que Aécio Neves foi solenemente diplomado CUZÃO, com maiúsculas.

Perdão, mãezinha, mas não encontrei no dicionário palavra que descreva melhor Aécio Neves.
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