A guerra declarada entre Maia e Moro pode ser o primeiro passo na retomada da democracia no país

Atualizado em 21 de março de 2019 às 15:28
Didático

Um dos principais críticos da milícia do Rio de Janeiro, envolvida com o senador Flávio Bolsonaro, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) foi escolhido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para a equipe de trabalho que vai discutir o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Esse é apenas mais um capítulo da guerra em que se envolveram Moro e Rodrigo Maia nesta semana.

Freixo foi um dos primeiros a denunciar as milícias do Rio.

Entre os denunciados está o chefe do grupo de Rio das Pedras, na zona Oeste da cidade, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Adriano Magalhães da Nóbrega – tem relação com o assassinato da vereadora Marielle Franco.

O miliciano já recebeu homenagem de Flávio Bolsonaro (PSL) na Alerj por sua “dedicação, brilhantismo e galhardia”.

Até novembro do ano passado, a mãe e a mulher de Nóbrega trabalhavam no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio.

Nóbrega teve prisão decretada, mas está foragido.

Outro miliciano preso, o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, também já foi homenageado por Flávio Bolsonaro.

A milícia de Rio das Pedras, combatida por Freixo, é considerada a organização criminosa mais forte e mais perigosa do Estado.

Seus membros são acusados de homicídio, ocultação de bens vindos de atividades ilegais por meio de “laranjas”, falsificação de documentos, pagamento de propina a agentes públicos, agiotagem, uso de ligações clandestinas de água e luz e uso da força e demonstração de poder como meio de intimidação.

Mas nada disso tem despertado o interesse do ministro Sergio Moro.

Ao contrário, ele preferiu forçar a tramitação do seu projeto na Câmara até receber uma negativa de Rodrigo Maia.

Coincidentemente, um dia depois o sogro do presidente da Câmara, o ex-governador do Rio e ex-ministro Moreira Franco foi preso junto com Michel Temer.

Como as provas contra Temer e Moreira são consistentes e fartas, difícil cravar que a prisão é fruto de retaliação política, mas as evidências mostram que sim.

A guerra entre Rodrigo Maia e Sérgio Moro, e por tabela o clã Bolsonaro, está apenas no início. Se ficar evidenciado que Moro age politicamente e, como se diz no jargão popular, usa a chave da cadeia como instrumento de política, ficará irremediavelmente desmoralizado. E certamente vai sofrer as consequências disso – a prisão ilegal de Lula é um exemplo.

Para completar o time para enfrentar o ministro da Justiça, outro deputado combativo, Paulo Teixeira (PT-SP), foi escalado para o grupo de trabalho que vai discutir o projeto de Moro – os dois outros integrantes são o Capitão Augusto (PR-SP), líder da Bancada da Bala, e a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).

Se Temer e Moreira serviram de isca para o ministro da Justiça forçar a aprovação à fórceps de seu projeto anticrime, Freixo pode ser o trunfo que Maia precisa para honrar sua família e mostrar que, a despeito de problemas administrativos, quem está envolvido com quadrilha de assassinos e pistoleiros de aluguel são Jair, o chefe de Moro, e seus três filhos, Flávio, Carlos e Eduardo.

Do ponto de vista pedagógico, a prisão de Moreira e Temer pode representar um passo importante na busca pela retomada da democracia no Brasil.