A guerra no clã dos Covas é quase tão pesada quanto a de Marta e Eduardo Suplicy. Por José Cássio

Atualizado em 1 de agosto de 2018 às 11:01
Bruno Covas, Doria e Zuzinha. Foto: Reprodução

Eduardo (PT) e Marta Suplicy (MDB) não são os únicos representantes de famílias tradicionais paulistas em rota de colisão nesta campanha.

Num outro seio, o dos Covas, talvez até mais importante dado o perfil conservador dos eleitores do Estado, também há bateção de chapa.

O filho do ex-governador Mário Covas, Mário Covas Neto, o Zuzinha, corre com o presidenciável Álvaro Dias e é candidato ao senado pelo Podemos. Seu sobrinho Bruno, herdeiro da prefeitura paulistana, é o coordenador da campanha de Geraldo Alckmin no Estado.

Se o grande Mário Covas deixou um legado político, como campeão da democracia e lutador pelas causas justas, na esfera pessoal, se é que ficou algo de bom não foi para o neto.

Do convívio com o avô, Bruno pegou e aprimorou as artimanhas da baixa política. Um estilo contestado entre membros do próprio PSDB, alicerçado em ambições pessoais e nenhum compromisso com a causa pública.

Foi deputado estadual por dois mandatos e também federal – nesta campanha, em 2014, ficou famoso o caso do radialista e na época suplente de vereador tucano em São José do Rio Preto, Mário Welber, flagrado no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, levando na pasta R$ 102 mil em dinheiro vivo e um envelope com 16 cheques e um cartão de campanha de Bruno.

O caso, como era de esperar em se tratando de um tucano relativamente importante, acabou caindo no esquecimento.

Mas foi a partir de 2011, no comando da pasta estadual do Meio Ambiente, que Bruno se revelou pra valer. Loteou os cargos técnicos para atender interesses políticos, ignorando o bom trabalho que havia sido iniciado por Xico Graziano, títular da secretaria sob Serra-Goldman, e tornou a máquina uma chancela para interesses de pequenos grupos.

A terra arrasada que entregou ao sucessor nunca mais foi recuperada – e a política ambiental do Estado, convenientemente a partir de então, acabou se reduzindo a moeda de troca.

No impeachment de Dilma, já como deputado federal, a lembrança que se tem dele é de zombaria e protagonista do jogo do quanto pior, melhor.

É bem possível que tenha se lamentado por não estar naquela lendária foto em que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, aparece ao lado de moralistas falsos de variadas matizes fazendo o número 1 com os rapazes do MBL.

A conquista da prefeitura, que Bruno na primeira entrevista definiu como um passeio à Disneylândia, é a soma dessa baixa política com o oportunismo.

Usou o nome Covas para garantir a vaga de vice de João Doria. Com sua quase nenhuma vocação para o trabalho fracassou na pasta das Subprefeituras.

Empurrado escada acima, ganhou a secretaria de Governo, onde enfim pode fazer o que sabe: tramar para que o prefeito traísse Alckmin e abandonasse a prefeitura para disputar a presidência (plano A) ou o governo do Estado (B).

Como prefeito, Bruno é um zero à esquerda.

Sem novidade, sem trabalho sério, sem compromisso com as pessoas – a se considerar que o governo é comandado por Gustavo Pires, seu amiguinho de plantão, com 20 e poucos anos, dá para ter uma noção de como vão as coisas na prefeitura.

Esse é a coordenador que Geraldo escolheu para reverter o quadro de penúria da sua campanha no Estado.

Se do ponto de vista da grandeza humana é certo assegurar que Bruno não herdou um gene sequer do avô, seria exagero dizer o mesmo do filho, Mário Covas Neto, o Zuzinha.

Este pelo menos ostenta o lado camarada do velho Covas. Alguém de alma leve, que não passa os dias destilando ódio aos contrários e que vê a política como a arte da conciliação.

Como o pai, Zuzinha também não é de ficar engolindo sapo. Por isso, tão logo foi traído por João Doria, e viu o PSDB fazer corpo mole com as diabrites de Aecio, caiu fora do barco.

Era o presidente municipal do PSDB quando João Doria surgiu como opção em São Paulo. A prévia para a escolha do candidato a prefeito era a forma de renovação defendida pela base do partido.

Zuzinha bancou a ideia, João Doria acabou virando prefeito e em retribuição colocou o colega para escanteio.

Hoje no Podemos, caminhando com Álavaro Dias, ele diz que não guarda mágoa. E espera contar com o segundo voto dos tucanos – serão eleitos dois senadores neste ano.

Com relação ao sobrinho, a relação é boa, mas, ardiloso como um bom Covas, torce para ver a cizânia instalada na família Suplicy. Espalha que Marta vai recuar da corrida à reeleição, para não confrontar o ex-marido, e concorrer a uma vaga na câmara dos deputados – neste caso, suas chances de vitória aumentam consideravelmente.