Quem precisa da Tuiuti mostrando a herança escravagista do Brasil como alegoria na Sapucaí se nós temos a realidade de Jurerê Internacional?
A cena do empresário Douglas Aguiar tendo os pés lavados num beach club com champanhe Veuve Cliquot (em torno de 300 reais a garrafa) fala por si mesma.
Douglas, que é dono de uma empresa de locação de andaimes chamada Brastub, estava com os pés sujos de areia e mandou o garçom dar um jeito.
Não podia ser água. Tinha que ser com a bebida cara.
Não podia ser ele mesmo. Tinha que ser o serviçal — que, se não atendesse o amo, iria para o olho da rua.
Aguiar é o novo rico típico. Vive saindo em notinhas sociais por conta de jequices desse jaez. Tem uma coleção de carros e um helicóptero. Organiza “feijoadas”.
Em 2010, bateu sua Ferrari num acidente em Belo Horizonte e a abandonou. Depois foi buscar, pagando 70 mil reais. De acordo com a polícia, o automóvel se espatifou numa mureta. Ele machucou a mão.
O que a Tuiuti fez — e por isso desagradou tanto a direita brasileira, que não gostou de se ver — foi escancarar esse legado na avenida.
A bibliografia do enredo do carnavalesco Jack Vasconcelos cita o livro “A Elite do Atraso – Da escravidão à Lava Jato”, de Jessé de Souza.
Segundo Jessé, nossa elite se perpetua no antigo modelo. Surgem novos escravos, com uma “naturalização da miséria e do sofrimento alheio”.
“Temos, como sociedade, ódio aos pobres. Isso veio da escravidão, em que havia uma distinção muito clara entre quem é gente e quem não é”, diz.
Tanto no Carnaval do Rio quanto em Floripa, temos esse traço nacional exacerbado, ao vivo e a cores.
Ali na praia está claro quem é gente e quem não é — e não só lá.