Me enviam um vídeo que é o chamado retrato do Brasil.
É da Globonews, e o personagem central é o jornalista Carlos Monforte.
Monforte anuncia calamidades para o Brasil. A inflação, por exemplo, deu um grande salto.
E ele comenta também, cheio de desdém, a entrevista de Lula com “amigos blogueiros”.
Amigos?
Claro que a noção de amizade é subjetiva, mas no caso do DCM não existe nenhuma relação de amizade com Lula, ou com quem quer que seja na esfera pública.
Praticamos – ao contrário dos jornalistas da Globo – a máxima de Pulitzer segundo a qual jornalista não tem amigo porque amizades influenciam o conteúdo.
É engraçado ver jornalistas da Globo – fora Monforte, Merval Pereira também criticou a entrevista de Lula – num acesso estudado de “jornalismo crítico”.
Merval, por exemplo, jamais se constrangeu em se abraçar a integrantes do STF dos quais ele deveria manter distância vital para poder escrever textos não enviesados.
Alguma vez Merval fez perguntas “duras” para seus amigos em entrevistas? Ou melhor: para amigos da Globo?
Estendo. Algum jornalista da Globo fez jornalismo crítico em qualquer ocasião ao entrevistar um amigo da casa?
Joaquim Barbosa foi entrevistado, pelo que me lembre, em pelo menos duas ocasiões por estrelas da Globo. Algum tempo atrás Míriam Leitão o entrevistou. Mais recentemente, Roberto Dávila.
Alguma pergunta sobre o apartamento de Miami? Ou sobre a agressão à primeira mulher?
Não. Apenas sorrisos, abraços e flores.
Então ficamos assim: quando é amigo da Globo, não existe jornalismo crítico. Para os inimigos, sim.
Bonito isso.
Vou estender ainda mais a reflexão. Os aguerridos jornalistas da Folha: quando eles foram duros em relação a algum amigo dos Frias?
Ora, a Folha simplesmente abandonou a cobertura da sonegação milionária da Globo — e mesmo assim se diz de rabo preso com ninguém?
Qualquer pessoa que vá dar uma entrevista, nas condições de Lula, escolhe minuciosamente os entrevistados.
Ninguém convida ninguém que vá chegar à entrevista com intenções assassinas, tanto mais quando se trata de uma pessoa na vida privada, e não pública, como é hoje o caso de Lula.
Por que então o alarido?
Por hipocrisia. Por cinismo. Por desfaçatez.
Suponha que FHC convoque uma entrevista para falar de seu novo livro, ou o que for. Sua lista de convidados não incluirá potenciais litigantes. Ele tem o direito de não querer que o importunem com perguntas como a questão da compra dos votos para a reeleição.
Se todo mundo faz isso, onde está a notícia senão na cabeça de jornalistas que recriminam nos outros o que eles próprios fazem quando se trata de amigos das empresas para as quais trabalham?
Comecei dizendo que o vídeo de Monforte era um retrato do Brasil, e agora completo o raciocínio.
O patrocinador do conteúdo alarmista, catastrofista e francamente negativo era – claro – o próprio governo atacado sem trégua: a Caixa.
A “mídia técnica” – e suponho que Monforte tenha um traço no Ibope — é assombrosamente generosa. Ou idiota.