A homenagem à Rota é um tiro na sociedade

Atualizado em 2 de outubro de 2014 às 16:32

A ‘Salva de Prata’ aprovada na Câmara Municipal de São Paulo é um golpe de cacetete na democracia.

rota

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou ontem uma homenagem às Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA). A “Salva de Prata” é uma condecoração pelos serviços prestados pela tropa de elite da polícia paulista. E é um golpe de cacetete no lombo da população.

Se houve um consenso sobre qual teria sido a principal fagulha motivadora do agigantamento dos protestos, sem dúvida se refere exatamente à repressão policial e ainda assim, a chamada “bancada da bala”, constituída pelos vereadores Coronel Telhada (PSDB), Roberval Conte Lopes (PTB) e Alvaro Camilo (PSD), todos ex-comandantes da tropa, não encontrou nada mais oportuno a fazer do que homenagear a Rota.

Em discurso, Conte Lopes disse que a Rota é a “melhor polícia do mundo” e que a tropa é a melhor garantia de segurança para a sociedade. Foi interrompido por vaias diversas vezes.

Paulo Telhada, vulgo Coronel Telhada e autor da proposta, foi ainda mais longe e afirmou que o livro Rota 66, de Caco Barcellos é “uma grande mentira”.

O livro de Caco (prêmio Jabuti de 1993 na categoria não-ficção) demandou 5 anos de pesquisa e levou à identificação de 4.200 vítimas mortas pela Polícia Militar de São Paulo. Depois disso, Caco Barcellos precisou passar um tempo fora do país pois sua vida corria risco.

Ano passado, ao denunciar que a página do mesmo Coronel Telhada no Facebook fazia incitações à violência, o repórter André Caramante, da Folha de S. Paulo, passou a ser alvo de ameaças que também o levaram a deixar o país com a família (seus filhos permanecem fora da escola e o jornalista espera providências das autoridades que ainda não identificaram os autores de ameaças feitas inclusive por telefone, diretamente para a Folha de S. Paulo, como: “Quero deixar um recado para o André Caramante. Para ele deixar a polícia trabalhar em paz ou os filhos dele vão estudar no tacho do inferno”).

Numa época em que se discute fortemente a desmilitarização da polícia, para que essa afronta?

O livro “O Pequeno Exército Paulista”, do professor Dalmo Dallari, conta como surgiu esse mini exército: “O decreto número 1 do governo provisório, à época da proclamação da República, dizia que as províncias passariam a se chamar estados, que eram, na verdade, subdivisões administrativas. Entretanto, em muitas dessas províncias havia grupos poderosos, grandes famílias e oligarquias muito ricas que queriam agir com absoluta independência, sem interferência do governo central. Temendo que fosse cerceada essa liberdade, foi criado um organismo de policiamento militar que tinha esta dubiedade: ao mesmo tempo era militar e policial, quando, de fato, tratam-se de tarefas essencialmente diferentes”.

Ganhando músculos durante a ditadura militar, temos a situação que se encontra até hoje, com a PM tendo atribuições características de polícia civil, agindo nas situações mais descabidas (manifestações políticas, movimentos grevistas, etc). E com a truculência que lhe foi instruída. A PM tem formação militar, é considerada efetivo de reserva do Exército. São militares policiando as ruas em tempos de paz. Para quê?

O policiamento na Inglaterra é feito exclusivamente pela guarda civil, por exemplo. E isso não significa decréscimo na segurança. Pelo contrário, numa época em que o comportamento bélico da PM, sobretudo na periferia, está comprovadamente sendo ineficiente (senão fomentador), não seria hora de passar o bastão?

Abaixo, a lista da votação durante a qual manifestantes, obviamente, foram retirados à força:

Vereadores que votaram a favor da homenagem:

Abou Ani (PV)

Adilson Amadeu (PTB)

Andrea Matarazzo (PSDB)

Atílio Francisco (PRB)

Aurélio Miguel (PR)

Aurélio Nomura (PMDB)

Calvo (PSDB)

Claudinho de Souza (PSDB)

Conte Lopes (PTB)

Coronel Camilo (PSD)

Coronel Telhada (PSDB)

David Soares (PSD)

Edir Sales (PSD)

Eduardo Tuma (PSDB)

Floriano Pesaro (PSDB)

George Hato (PMDB)

Gilson Barreto (PSDB)

Goulart (PSD)

Jean Madeira (PRB)

José Police Neto (PSD)

Laércio Benko (PHS)

Marco Aurélio Cunha (PSD)

Mário Covas Neto (PSDB)

Marquito (PTB)

Marta Costa (PSD)

Nelo Rodolfo (PMDB)

Noemi Nonato (PSB)

Ota (PSB)

Patrícia Bezerra (PSDB)

Paulo Frange (PTB)

Pastor Edemilson Chaves (PP)

Ricardo Nunes (PSDB)

Roberto Tripoli (PV)

Sanda Tadeu (DEM)

Souza Santos (PSD)

Toninho Paiva (PR)

Wadih Mutran (PP)

Vereador que se absteve:

Ari Friedenbach (PPS)

Vereadores que votaram contra a homenagem à Rota:

Alessandro Guedes (PT)

Alfredinho (PT)

Arselino Tatto (PT)

Jair Tatto (PT)

José Américo (PT)

Juliana Cardoso (PT)

Nabil Bonduki (PT)

Natalini (PV)

Orlando Silva (PCdoB)

Paulo Fiorilo (PT)

Reis (PT)

Ricardo Young (PPS)

Senival Moura (PT)

Toninho Véspoli (PSOL)

Vavá (PT)