A hora de investigar o instituto do procurador endinheirado Dallagnol. Por Moisés Mendes

Atualizado em 14 de julho de 2019 às 21:35
Deltan Dallagnol. Foto: Agência Brasil

Publicado originalmente no blog do autor

POR MOISÉS MENDES

Chegou a hora de investigar a fundo os negócios de Deltan Dallagnol, mas sem vacilações. Em março, a Procuradoria-Geral da República travou a criação das Organizações Tabajara do procurador da Lava-Jato. Mas isso não basta.

Com as novas mensagens divulgadas pela Folha, é preciso ir adiante para desvendar por completo a ideia do procurador de criação da fundação com os R$ 2,5 bilhões da multa imposta à Petrobras.

Ninguém mais fala do instituto de Dallagnol, cuja criação teve o aval da vara especial comandada por Sergio Moro, ou não teria sido nem mesmo projeto. A imprensa e o Ministério Público abandonaram o assunto, ressuscitado pelas mensagens agora publicadas.

Dallagnol queria ganhar dinheiro desde 2015, como mostram as mensagens. Mas é preciso ordenar o conjunto de informações que ele passa aos colegas para entender quando a ideia da fundação ainda está viva e quando ele parece optar por outra saída.

Essa mensagem abaixo é recente, de 3 de março deste ano:

“Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”.

Duas semanas depois, a procuradora-geral, Raquel Dodge, determinou formalmente que Dallagnol desistisse da ideia da fundação.

A dúvida é esta: o procurador insistia com o projeto, com outro formato, mesmo sabendo que sua chefe estava tratando do seu plano esdrúxulo e que iria, logo depois, determinar que ele abandonasse tudo?

É a investigação a ser feita. O que as mensagens sugerem é que, ao perceber que a fundação não iria prosperar, Dallagnol agarra-se ao novo projeto da entidade sem fins lucrativos, mas já sabendo que não pode contar com o dinheiro da Petrobras.

O que ele quer, ao criar o grupo de mensagens que trata do assunto com colegas, em dezembro 2018, é ganhar dinheiro. O procurador envolve até a esposa em suas expectativas de ficar rico. Fernanda, a mulher dele, seria dona-laranja numa empresa promotora de palestras.

Esse texto é da Folha: “Cerca de três meses antes de iniciar o grupo para discutir a abertura da empresa, Deltan informou a esposa sobre a lucratividade das palestras apurada até setembro de 2018.

Essa é a mensagem: “As palestras e aulas já tabeladas neste ano estão dando líquido 232k [R$ 232 mil]. Ótimo… 23 aulas/palestras. Dá uma média de 10k [R$ 10 mil] limpo.”

No mês seguinte, como mostra a Folha, o procurador manifestou suas previsões de renda extra para o fechamento de 2018.
“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”, disse o procurador.

Dallagnol era um homem que fazia contas. O jornalismo ainda deve a grande reportagem sobre a evolução do plano do instituto com dinheiro da Petrobras e de outros projetos para faturar alto.

O Ministério Público não pode continuar calado. Se ficar, estará daqui a pouco diante de algo maior.