A importância das mulheres nos unirmos contra Bolsonaro, não só no Facebook. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 16 de setembro de 2018 às 7:11
Grupo no Facebook reúne eleitoras contrárias a Bolsonaro (Foto: Reprodução)

Ao menos para uma coisa a candidatura do presidenciável sem projetos de lei e sem sangue tem servido: as mulheres brasileiras estão unidas, como nunca antes estiveram em sua história, contra o fascismo.

Um grupo criado no Facebook nesta semana intitulado “Mulheres contra o Bo*sonaro!!!” atingiu um milhão – um MILHÃO – de membros em apenas dois dias de existência.

Sabe o quanto um youtuber, por exemplo, precisa se esforçar pra fazer com que um milhão de mulheres prestem atenção nele em dois dias? Muito, garanto.

Não há homens no grupo: para participar, é preciso ter aprovação das moderadoras, que conferem muito cuidadosamente todos os perfis que solicitam participação, afim de se certificarem de que são perfis de mulheres reais – eu sei porque estou lá.

E não é só oba-oba: nos tópicos do grupo, temos nos articulado divididas por estado, a fim de notarmos em quais regiões brasileiras a ameaça fascista é mais preocupante – estamos engajadas contra o coiso como uma verdadeira força-tarefa, e, ainda que o país esteja um caos, isso é lindo de se (vi)ver.

Como alguns homens são capazes de pagarem pra passarem vergonha, se preciso for – calma, meu anjo, é grátis mas não precisa exagerar! -, criaram um grupo intitulado “Mulheres com o Bolsonaro”, mas, em vez de um milhão, há pouco mais de dez mil membros, entre homens e mulheres. Na verdade, há mais homens que mulheres – eu sei porque estive lá.

Manter-se na bolha, pra mim, é coisa de gente alienada. Ocupo todos os espaços que posso: na minha timeline tem pobre, rico, esquerdista, liberal, anarquista, empreendedor, carteiro e até eleitor do inominável – vale a pena pra tentar, sempre em vão, entender o que se passa pela cabeça de um eleitor do inominável, se é que há algo lá.

Costumo me infiltrar pra atacar pelo lado de dentro, mas nesse grupo especificamente eu não consegui ficar por muito tempo. Fiquei apenas o tempo suficiente para assistir ao vexame: o público maciço é composto por homens e adolescentes que provavelmente ainda nem votam, e que – Deus me ouça, seja ele quem for – decerto terão tempo de mudar de opinião.

Não quero dizer com isso que não há mulheres que votem no Jair Voldemort.

É claro que há – há de tudo no mundo, não é mesmo? – mas elas são minoria: 49% declaram ao Ibope que “não votariam em Bozonaro de jeito nenhum”, o que não significa, ressalte-se, que os outros 51% compõem o eleitorado dele.

É a maior rejeição feminina a um político desde quando nos foi permitido votar.

As eleitoras ou potenciais eleitoras de Bolsonaro que conheço são poucas e votarão nele pelos motivos errados: porque o marido vota (nota: a família brasileira ainda é absurdamente patriarcal) ou porque ele “vai nos livrar dos esquerdistas vagabundos que querem quebrar o país.”

Essas mulheres não são nossas inimigas, são apenas vítimas do fascismo e ingênuas demais para enxergarem que os canos das armas dos “cidadãos de bem” estão apontados para suas cabeças, e para as cabeças dos negros, dos pobres e dos LGBTQ+.

Imagina o quão fantástico seria se as mulheres fossem capazes de se unirem em torno de um projeto político como são capazes de se unirem contra um presidenciável fascista?

Nós somos. Isso é só o começo: o fascismo ladra e a caravana das mulheres passa, fazendo história.