A indenização a Maria do Rosário fortalecerá outras Marias contra outros Bolsonaros. Por Nathalí

Atualizado em 20 de novembro de 2019 às 18:15
Jair Bolsonaro e Maria do Rosário. Foto: AFP

Em 2003, o atual presidente e então parlamentar Jair Bolsonaro dirigiu à também deputada Maria do Rosário (PT) aqueles insultos que já conhecemos – porque são exatamente os mesmos proferidos novamente em 2011, ocasião em que a cena foi filmada e o vídeo inclusive compartilhado e retuitado ora como forma de repudiar, ora como forma reiterar a agressão: “você não merece ser estuprada porque é feia” (pausa para o asco).

Jair Bolsonaro jamais foi punido ou sequer julgado. Apesar de a deputada tê-lo processado internamente, acabou em pizza. No parlamento brasileiro, ter costas quentes é sinônimo de ter licença pra agredir mulher, e não é de hoje.

Só em 2011, quando ela decidiu processá-lo através da justiça comum, ele passou a de fato responder pela injúria, tanto criminalmente quanto civilmente, em uma ação por danos morais na qual acaba de ser condenado a pagar à vítima uma indenização no valor de 10 mil reais – que transformaram-se em vinte mil, somados juros e correção, graças ao atraso do condenado, notadamente um bom pagador.

O dinheiro foi integralmente doado a seis entidades de combate a violência contra à mulher. “Não quero um tostão de Jair Bolsonaro, só quero respeito”, voltou a dizer a Deputada, com coragem e alívio estampados no rosto, na ocasião da doação.

Uma vitória após oito anos de impunidade deve mesmo inspirar um grande alívio.

Aliás, diante do sofrimento e humilhação a que Maria do Rosário e sua família foram submetidas, vinte mil é nada; e diante das numerosas e profundas necessidades dos movimentos de combate à violência contra a mulher, não é também grande coisa, mas o valor simbólico deste ato é gigantesco.

São os 20 mil de um violentador de mulheres – violência psicológica também é violência! – que vão ajudar diretamente outras vítimas, outras mulheres que ele tanto despreza.

E não qualquer violentador: o violentador que ocupa a cadeira da presidência e fortalece o machismo institucional com atos oficiais, declarações, omissões, insultos.

Eis portanto o nosso maior ganho enquanto mulheres brasileiras que politizam sua condição: o claro recado de que não seremos interrompidas, insultadas ou deslegitimadas foi dado.

Bolsonaro literalmente pagou pra ver.

Quem será que vai querer ser o próximo?