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A indignação hipócrita de Miriam Leitão com o trabalho escravo no golpe que ela apoiou. Por Kiko Nogueira

Na Globo News, Miriam e Flávio Rocha, da Riachuelo, falam sobre a recuperação da economia sob Temer

 

Miriam Leitão está indignada. Parem as rotativas.

Em sua coluna no Globo de segunda, dia 17, ela denuncia “mais uma medida de retrocesso social do país” (mais uma? Houve outras, então? Ué).

Ela se referia à portaria do governo que dificultou a divulgação da lista do trabalho escravo e sua fiscalização.

“Foi mais um pedido da bancada ruralista que o presidente aceita dentro do seu esforço para barrar a segunda denúncia”, escreveu.

“Os auditores do trabalho perderam autonomia; um flagrante só poderá ser realizado com a presença da polícia. Se não for flagrada, a empresa não entra para a ‘lista suja’. É bom lembrar que, pelas regras até agora vigentes, quem não cometer o mesmo crime por dois anos sai da lista.”

Miriam quer que o leitor dela acredite que a agenda de retrocessos do governo Temer é uma surpresa.

Ela dá de barato que o sujeito que a lê, ouve e assiste não se lembre da força que ela deu ao salafrário e ao entulho que vinha com ele.

Monomaníaca com a “herança do lulodilmismo”, Miriam chegou a defender Temer no episódio do vexame da abertura da Paralimpíada.

Segundo ela, as “críticas ao presidente são por insatisfação com decisões tomadas antes de sua posse”.

A população “ainda vive com inflação e desemprego, o que são os motivos das vaias. Medidas que serão tomadas pelo novo governo terão solução em longo prazo”.

Miriam é tão preocupada com o trabalho escravo que entrevistou em agosto do ano passado o dono da Riachuelo, porta voz empresarial do impeachment, e não tocou no assunto da condenação da companhia, ocorrida meses antes, a pagar pensão mensal a uma costureira que colocava elástico em 500 calças por hora.

O salário da funcionária era de 550 reais. Um supervisor ficava de olho para evitar que bebesse água ou fosse muito ao banheiro. O caso teve ampla repercussão e gera polêmica até hoje.

Nada disso interessou a Miriam. Seu negócio era sustentar a tese de Flávio Rocha de que o Brasil ia dar um salto com Michel Temer.

“Não está havendo uma troca de governo apenas, mas o fim de um ciclo que apostou no aumento do tamanho do Estado e elevou impostos. A recuperação será rápida, será em ‘V’”, garantiu, triunfante, sem ser incomodado pela entrevistadora.

De acordo com Rocha, “a reforma trabalhista tem que ter apenas um princípio: o de que o negociado entre trabalhador e empresa se sobrepõe ao legislado”.

Retrocesso social?

Miriam Leitão precisa parar de fingir que está indignada com a tragédia temerista porque ela é parte do grande acordo.

Ivan Lessa dizia que, a cada 15 anos, o Brasil se esquece do que ocorreu nos últimos 15 anos. Miriam se beneficia do fato de que, entre seus seguidores, isso acontece a cada 15 minutos.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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