A infestação de mosquitos aedes aegypti no Estadão é culpa da Dilma. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 13 de fevereiro de 2016 às 10:23

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Há uma ironia imensa no fato da sede do Estadão, em São Paulo, estar infestada de aedes aegypti. O Portal Imprensa contou que os bichos invadiram a redação a partir de um criadouro no fosso dos elevadores.

“Apesar da questão ter um caráter emergencial, nenhuma medida concreta teria sido tomada pelo veículo para proteger seus trabalhadores”, diz a matéria. “Reclama-se que nem um e-mail corporativo informando sobre o problema ou com medidas para prevenir as picadas dos insetos teria sido enviado”.

Quem foi ao RH foi aconselhado a usar repelente. Os que reclamaram mais  incisivamente ganharam repelentes elétricos. Uma dedetização foi providenciada depois dos protestos do pessoal, que lembrou que havia grávidas no local.

Enfim, uma mistura de tragédia, comédia e terror como só o castelo mal assombrado dos Mesquitas poderia proporcionar.

Mas o que chama a atenção é, mais uma vez, a contradição ululante entre a pregação e a prática. O jornal de 8364 anos cobre o drama do zika vírus  e da microcefalia obsessivamente. E está correto ao fazê-lo.

O tom, porém, é sempre de que chegam à atual situação porque algo está deixando de ser feito pelo governo. Num de vários editoriais — ah, os editoriais do Estadão — sobre o tema, de 27 de janeiro, o tom é peremptório.

O texto começa batendo no ministro da Saúde, o deputado federal Marcelo Castro. “Sua recente declaração reconhecendo que o Brasil ‘perdeu feio’ a batalha contra o mosquito Aedes aegypti ao menos trata com transparência um problema sério, que até agora a presidente Dilma Rousseff não enfrentou nem dá mostras de querer enfrentar com a devida severidade”, lê-se.

“Ela prefere divulgar sua irritação com as palavras do ministro e anunciar medidas demagógicas. Com esse modo de governar, o problema só tende a aumentar – do mesmo modo que cresce a mais que justificada irritação da população com a presidente da República. É urgente combater eficazmente o mosquito aedes aegypti.”

Outro colunista lembra que “a mesma falta de credibilidade que o atual governo tem nos campos político e econômico repete-se no campo da saúde pública. Por tudo isso, é difícil acreditar na seriedade das intenções da presidente”.

Há ainda os desabafos dos leitores, aqueles velhinhos sentados em cadeiras de balanço de vime, a piteira suja, a artrite, o ódio dos malditos bolivarianos, fazendo piadas sobre a “presidente com cabeça de mosquito”.

É razoável supor que, enquanto esses artigos contundentes eram encomendados e produzidos, os insetos faziam a festa no edifício da Marginal Tietê.

Não que haja a menor possibilidade de algo assim ocorrer, mas e se o jornal cobrisse sua crise sanitária? Ou por outra: e se o rigor exigido das autoridades fosse aplicado ali?

E se o jornal que ataca os meliantes petistas mandasse seu zelador dar um trato no pedaço?

É pedir demais. O Estadão vai quebrar também por causa dessa demagogia. Recentemente, uma série foi publicada sob a rubrica “Economistas apontam soluções para o Brasil sair do atoleiro econômico”.

“Nem o mais pessimista deles conseguiu imaginar que a deterioração ocorreria de maneira tão rápida e profunda. O que era chamado genericamente de crise transformou-se no que promete ser a pior recessão em quase cem anos”, pontifica a abertura.

Seguem-se títulos como “A construção de um desastre”, “Recessão bate governo de 7 a 1”, “O embuste fiscal” e “As razões para o colapso”.

O Estadão sabe o caminho para escapar da catástrofe e ele é, evidentemente, oposto ao que está sendo tomado pela quadrilha que tomou o poder.

Como no caso da mosquitada, fica a questão: com tantas lições a dar, como pode o Estadão estar numa draga?

As demissões ali já viraram lenda. A empresa não é vendida simplesmente por não ter comprador. A última tentativa foi em 2013, quando a Globo foi sondada e não se interessou. A corretora Itaú BBA tinha um mandato para realizar a operação.

O Estado de S. Paulo está morrendo de septicemia. Limpar o fosso dos elevadores pra quê, afinal? De qualquer maneira, a culpa é da Dilma.

Um dos sintomas da microcefalia
Um dos sintomas da microcefalia