A insanidade das críticas racistas à atriz negra que fará a Hermione de “Harry Potter”

Atualizado em 25 de dezembro de 2015 às 22:30

 

Noma ladeada por Jamie Parker (o Harry Potter da meia idade) e Paul Thornley que faz seu marido Ron Weasley
Noma ladeada por Jamie Parker (o Harry Potter da meia idade) e Paul Thornley que faz seu marido Ron Weasley

 

O anúncio de uma atriz negra para o elenco da peça de teatro “Harry Potter e a criança amaldiçoada” provocou uma saraivada de reclamações de fãs da saga, inconformados com a possibilidade da atriz Noma Dumezweni interpretar a personagem Hermione Granger.

Nem a afirmação da criadora da história, J.K. Rowling, de que as descrições da personagem se resumem a “olhos castanhos, cabelo crespo e muito inteligente” e que a cor da pele “nunca foi especificada” freou a onda de queixas racistas na internet.

“Espere, Hermione negra? Você está brincando? Não faz sentido”, reclamou um internauta pelo Twitter. Outro berrou: “Hermione em Cursed Child é NEGRA? NÃO! Obrigado por destruir Harry Potter”. Várias outras pessoas dedicaram seus tempos para fazer queixas parecidas na rede social.

As críticas, porém, não foram unânimes e houve elogios à decisão dos produtores da peça em escalar a atriz nascida na Suazilândia, um pequeno país localizado no sul da África.

Um deles foi o internauta Andrien Gbinigie, que em um tweet matador resumiu o nível de desatino de quem lamenta a presença de personagens negros em Harry Potter, Star Wars, 007 ou outras obras onde até então só brancos tinham papel de destaque.

“Pessoas reclamando da cor da pele de Hermione em um universo de ficção onde as pessoas montam em vassouras para desafiar a gravidade. Continuem loucos”, escreveu Gbinigie.

Só loucura mesmo para explicar essa indignação. Uns alegam que o personagem negro deturpa a obra original, outros colocam culpa na “ditadura do politicamente correto” ou mostram-se paranoicos vendo personagens negros como sinônimo de “marxismo cultural”.

É preciso ter uma boa dose de insanidade mental para achar que o mundo vai acabar por causa de um personagem negro em um trama ambientada em uma escola de bruxaria, como lembrou Gbinigie. Ou que um negro não faz sentido em um universo onde um alienígena peludo de dois metros de altura trabalha como copiloto em uma nave espacial.

Seria mais coerente, da parte desses racistas, simplesmente admitir que odeiam os negros e que suas características físicas estragariam as histórias que tanto admiram.

Sanidade mental e coerência, contudo, são qualidades inexistentes nos racistas. Tem um vídeo (abaixo) que mostra a decepção de um neonazista americano, um tal de Craig Cobb, ao descobrir o resultado de um teste de DNA que remete 14% de sua origem à África subsaariana.

A informação de que ele não é 100 % branco fez com que ele abandonasse as ideia de supremacia branca? Nem um pouco. Ele continua na sua louca jornada de pregação de ódio racial e divulgação de falácias como “genocídio branco”.

Pelos números de Star Wars – O Despertar da Força, que apesar da ameaça de boicote por causa do ator negro cravou a marca de maior bilheteria de estreia da história do cinema, não há motivo para os produtores cinematográficos ficarem preocupados com o mimimi dos racistas.

O que não significa que sejam inofensivos, pois a loucura de quem se ofende com uma Hermione negra é a mesma que move neonazistas como Craig Cobb e mantém o xenófobo Donald Trump em primeiro entre os candidatos do Partido Republicano na disputa à presidência dos Estados Unidos.