A inspirada cinebiografia de Tim Maia

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 11:58
Um filme à altura do gênio
Um filme à altura do gênio

Além da voz marcante e do swing contagiante, Tim Maia era famoso por sua maneira bastante peculiar de lidar com compromissos. Com ele não existia hora marcada. Às vezes, ele sequer se dava ao trabalho de aparecer para os shows. Quando o fazia, era comum reclamar da equalização dos instrumentos e do som. Em comum com o mito, a cinebiografia tem o fato de ter passado por diversos atrasos para o seu lançamento, mas no final das contas fez toda a espera valer a pena. Com direção de Mauro Lima (Meu Nome Não é Johnny) e com Robson Nunes e Babu Santana se dividindo no papel principal, o longa-metragem conquista o público por não investir nas firulas e ser o mais próximo possível do humor e carisma de Tim Maia.

Um filme do Tim Maia seria interessante mesmo com um elenco ruim. O que acontece na cinebiografia é que somos presenteados com duas atuações inspiradas. Tanto Robson Nunes (que vive o cantor em seu começo de carreira) quanto Babu Santana (na reta final, e já bastante acima do peso) possuem talento e carisma para tirar a pressão de letra, especialmente Santana. Levando em consideração o jeitão marrento, os protagonistas conseguiram combinar o drama, a genialidade e a marra que faziam parte da mística do cantor. Falando em cantor, George Sauma está simplesmente brilhante como Roberto Carlos e irá deixar o público iniciado com um sorriso no rosto pela sua semelhança com o “Rei”.

Como de praxe nas cinebiografias, os roteiros investem mais na pessoa do que no artista. Ou seja, a música de Tim Maia é deixada de lado para focar nos perrengues que o cantor passou para chegar no auge e nos problemas que enfrentou com atrasos e brigas com a gravadora, como na fase (épica) Racional. Apesar de ser o melhor registro da sua carreira, o material ficou fora de circulação por anos, e o episódio forçou Tim a criar seu próprio selo Seroma. A fase Racional foi a melhor retratada nas mais de 2h de projeção, mas os fãs ficarão arrepiados com a jam session que dá origem a “Sossego”, um de seus principais clássicos (e que aliás, tenta fazer o público ter uma ideia de como é que compositores usam seus problemas pessoais como inspiração para criar verdadeiras obras de arte).

Um problema irritante do longa-metragem de Mauro Lima é o excesso nas narrações em off feitas por um personagem que em momento algum justifica a sua importância para o desenvolvimento da trama. Interpretado pelo galã Cauã Reymond, Fábio foi um instrumentista que passou mais de trinta anos acompanhando Tim Maia, e provavelmente presenciou muitas histórias absurdas, porém ele não reafirma essa importância ao longo da narrativa. Seu personagem é almofadinhas, inconveniente e metido a besta. É de se estranhar que Tim não tenha interrompido uma das narrações para mandar Fábio calar a boca e deixar o espectador assistir ao filme sozinho e livre da quantidade de falas expositivas.

Os produtores brasileiros reconhecem nas cinebiografias um forte mercado para trabalhar o cinema nacional, mas ainda sofrem para encontrar um tom adequado para as adaptações. É preciso prezar pela qualidade e variedade, e fugir dos equívocos de obras medíocres, como Somos Tão Jovens. Tim Maia se aproxima da qualidade de 2 Filhos de Francisco e Cazuza, mas tinha tudo para superar outras produções do subgênero. Felizmente, quem sai ganhando com isso é o público. Sejam os fãs de Tim Maia ou aqueles que só agora começam a desfrutar do maravilhoso legado musical de um dos principais nomes da música brasileira.