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A justa reação ao oportunismo barato do Catraca Livre diante da tragédia da Chapecoense. Por Kiko Nogueira

Isto se chama clickbait

 

O Catraca Livre está aprendendo a duras penas uma lição sobre os limites da busca por audiência na Internet.

Milhares de pessoas estão criticando o site por se aproveitar da tragédia da Chapecoense para tentar emplacar notas francamente apelativas.

Uma delas é sobre selfies de pessoas em seu último dia de vida, ilustradas por dois atletas do time. Outra sobre vídeos em aviões que sofreram acidente. Outra, ainda, a respeito de “mitos e verdades” sobre viagens aéreas.

Do triste episódio, mesmo, nada. Da equipe, nada. Nem de vítimas ou sobreviventes.

No Facebook e no Twitter, é um massacre de internautas. O site está sendo chamado de oportunista, vergonhoso e sensacionalista, entre outros adjetivos mais pesados.

O que o Catraca Livre faz é clickbait.

Segundo a Wikipedia, trata-se de “um termo pejorativo que se refere a conteúdo da internet destinado à geração de receita de publicidade on-line, normalmente às custas da qualidade e da precisão da informação, por meio de manchetes sensacionalistas e/ou imagens em miniatura chamativas para atrair cliques e incentivar o compartilhamento do material pelas redes sociais”.

O Buzz Fedd, com suas listas abstrusas, virou um antiexemplo jornalístico por abusar desse recurso.

Num artigo no Guardian de julho deste ano, a jornalista Katherine Viner analisou o fenômeno e escreveu que “almejar o clique barato dispensando a acurácia e a veracidade destrói os valores do jornalismo e da verdade”.

É evidente que o problema não é abordar os diversos aspectos de um evento e nem o fato de ter muita gente lendo — mas como abordar e o que abordar. Não vale tudo.

Diante da debacle, o Catraca Livre emitiu uma nota desastrosa, tentando justificar o injustificável, abaixo da palavra “luto” num quadro preto com letras em branco:

“Em momentos assim, o pânico se espraia: é necessário mostrar que o avião é o meio mais seguro de transporte. É necessário analisar com frieza as causas do acidente para que tragédias assim sejam evitadas.

É um meio de contribuir para que as pessoas saibam lidar com problemas.

Estamos, como a nação, de luto. Mas precisamos não apenas lamentar, mas informar.”

 

Falta explicar que tipo de contribuição traz uma matéria sobre auto retratos de gente que ia morrer. A dos mitos sobre aviões esclarece que não é verdade que você pode ser “sugado pelo vaso sanitário”.

Há um preço alto a ser cobrado por tratar as pessoas como idiotas.

 

 

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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