A justa revolta por Guilherme, mais um adolescente negro assassinado pela PM em São Paulo. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 16 de junho de 2020 às 8:10
Guilherme

O advogado Arnóbio Rocha, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo, acompanha os acontecimentos na Vila Clara, Zona Sul de São Paulo, depois que o jovem Guilherme Silva Guedes foi encontrado morto numa rua em Diadema.

Ele recebeu tiro em uma mão e na cabeça, e apresentava marcas de espancamento.

A família suspeita que os assassinos sejam policiais militares que trabalham como seguranças na região. Guilherme teria sido confundido com alguns invasores de um galpão da Sabesp.

A suspeita se reforçou depois que foi encontrado no local em que Guilherme foi sequestrado um pedaço de pano semelhante ao da farda da PM, com a inscrição “SD PM Paulo”.

Câmeras de segurança mostram os dois policiais se aproximando de Guilherme – e um deles mostra uma arma. A morte revoltou moradores da Vila Santa Clara, que colocaram fogo em um ônibus.

Arnóbio esteve na noite de ontem no local e acompanhará o sepultamento, na manhã de hoje.

Segue o relato que fez na sua rede social:

A periferia é vítima contumaz da polícia, mais um garoto “suspeito” morto, causa revolta, queima de ônibus, e mais violência.

A Comissão de Direitos Humanos da OAB foi informada dos graves incidentes, tentamos chegar o mais perto possível dos fatos, mas várias barreiras policiais impediam, larguei o carro e fui a pé, avancei até em frente ao CEU Caminho do Mar, onde havia dois ônibus, um incendiado e o outro depredado.

O cheiro de revolta, de sangue e de carros velozes da polícia cruzando e intimidando a todas e todos.

Apenas mais um episódio do descaso e do medo de que nada se faça por mais uma morte, mais um garoto.

Mais tarde, Arnóbio postou outro texto, de caráter subjetivo:

Vielas do medo, do nosso medo

Por que as pessoas temem as ruas das comunidades, favelas, se lá existe tanta vida, tanta vontade de viver? Gente simples, trabalhadora, lutadora pelo direito elementar, a vida, qual nosso medo?

Por que nos assustam as vielas, a falha do Google Maps? Por que nós classe média, branca, bem-nascida, com nosso bem-estar e Estado de Direito “garantido” tememos os nossos iguais?

Nada de romantizar a miséria, mas por que glorificamos a riqueza? Por que aceitamos o abismo como natural?

Por que apontamos o dedo para um ônibus queimado e silenciamos para as mortes bárbaras?

Nada, nem heroísmo ao ir e voltar da Vila Clara em chamas, de Heliópolis, Paraisópolis, da Cracolândia, pois é onde mais se perdem vidas, o direito humano fundamental, não no nosso conforto desigual e “seguro”.

Todas as vidas importam, as mais vulneráveis, mais ainda.

Veja o vídeo das manifestações ontem, publicado: