A Lava Jato é a maior mantenedora da corrupção na política nacional. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 6 de março de 2017 às 11:16
Os herois da Lava Jato
Os herois da Lava Jato

 

No Brasil, quem se presta a acompanhar a vida política do país acaba invariavelmente sendo levado a acompanhar a peculiar atuação da justiça brasileira para com essa singularíssima casta de nossa sociedade.

Isso se dá basicamente por dois motivos: 1) porque a imensa maioria de nossos políticos devem à justiça e 2) porque essa mesma justiça (na contra-mão de qualquer lógica democrática) deve igualmente aos políticos.

Seja qual for dos motivos acima elencados, inquestionável está, é simplesmente escandaloso e infesto. Escandaloso porque evidencia a histórica dependência do atual sistema político à prática da corrupção e infesto porque destrói um dos principais pilares de sustentação de uma democracia numa República: a independência e equidistância dos poderes.

A grande questão que se levanta daí é que se ambos os motivos são evidentemente danosos ao livre e pleno funcionamento de nossas instituições, qual deles teria o maior potencial destrutivo contra uma sociedade realmente justa?

Vejamos.

Se por um lado a corrupção (e toda a profusão de crimes afins que se pratica descaradamente na política brasileira) é de fato uma afronta à construção de uma sociedade igualitária, por outro o seu devido remédio constitucional encontra-se num sistema judicial sólido e imparcial.

Se, porém, esse sistema judicial está intimamente ligado com uma determinada classe política e dela age como sua reconhecida guardiã e protetora, todo o mecanismo de combate ao crime encontra-se severamente prejudicado uma vez que o princípio básico de que todos são iguais perante a lei já não encontra mais respaldo na realidade dos fatos.

Dessa forma, se o remédio constitucional contra o crime, a justiça, já não serve ou serve apenas para aqueles que não pertencem ao seu valioso círculo de protegidos, mais do que não combater o crime, a justiça apresenta-se como um poderoso indutor da criminalidade fomentada pela garantia de impunidade que fornece aos seus.

Assim exposto, é fácil deduzirmos que o pernicioso envolvimento da justiça com a política torna-se ainda mais prejudicial para o conjunto do tecido social do que o pernicioso envolvimento da política com o próprio crime. Se a justiça é a última trincheira contra o corrupção, promíscua a justiça, trincheira nenhuma já não há.

E aqui chegamos ao cerne da questão.

Quando a dita maior operação de combate à corrupção na política brasileira elege previamente o seu culpado ao mesmo tempo que confraterniza com o supra-sumo dos delatados em sua própria investigação, já não restam dúvidas que essa última trincheira foi superada.

Chegamos dessa maneira ao ponto em que a grande oportunidade de efetuarmos uma verdadeira limpeza em todo o sistema político deu lugar à triste realidade de que todas as mudanças, num “grande acordo”, são postas para que nada realmente mude.

A Lava Jato, viciada pelas suas relações nada republicanas, não só tenta incriminar indivíduos à revelia de provas quanto se revela como o principal mantenedor do status quo da histórica quadrilha que vem assaltando o Brasil desde que se extinguiu o velho regime monárquico para adentrarmos nessa outra forma de imperialismo.

Os “bobos da corte” que o digam.