A lenda do “Centrão domará Bolsonaro”. Por Fernando Brito

Atualizado em 31 de julho de 2021 às 11:56
Bolsonaro e o senador Ciro Nogueira Foto: Pablo Jacob

Publicado originalmente no Tijolaço:

Por Fernando Brito

Não é possível achar que a alardeada intenção do Centrão, como dizem os jornais, seja a de “moderar’ Jair Bolsonaro.

Nunca foi, como nunca foram sinceras, desde 2018, as desculpas de que as instituições funcionariam como contrapeso aos arroubos autoritários do ex-capitão, como fazia boa parte da mídia, aceitando que era necessário aceitar um homem tosco como aquele era o preço para “tirar o PT”.

Como no Fausto, entregaram-lhe a alma e dele não a recuperam porque – é suprema a ironia com a ‘autocrítica’ que tanto pediam ao PT – é preciso voltar no tempo e desfazer o feitiço que produziram no passado.

Bolsonaro não se importa de entregar o governo – de resto, algo que despreza – para conservar o poder, que ama pela possibilidade de produzir o mal e reunir um séquito de idiotas a servir-lhe de manto real da estupidez.

A ração de cargos e verbas, dada a alimentar a matilha política que existe desde sempre por essas terras, garante-lhe paz para ser o “Mito”, condição da qual se acha ungido e pela qual não hesita em conservar a qualquer preço, inclusive o da morte, de pessoas ou de instituições.

E que saboreia como vingança de sua pequenez histórica, que vem desde os tempos em que era um modesto defensor de soldos e milícias.

Se isto lhe deu votos pródigos, por que não continuaria a praticar a cartilha, agora atraindo generais – que prazer o do subalterno que agora os pode trazer à coleira – e a classe média que acredita que a felicidade é uma Glock?

Há, porém, um problema neste “pacto entre anormais” entre fisiologia e autoritarismo.

É que o Centrão, por mais que refugue do apoio explícito aos espasmos autoritários de Jair Bolsonaro, fica deles publicamente prisioneiro.

Na eleição que se anuncia plebiscitária para 2022, colar-se à figura presidencial, sobretudo no Nordeste. não é bom augúrio. Como se vê, a resistência dos partidos em “ganhar de presente” um Presidente da República só se explica pelo temor de dar a um deles os estigma de “Partido do Jair”.

Além disso, se continuarmos com uma derrota eleitoral previsível, não há que cogitar em punição por infidelidade eleitoral.

O Centrão, do governo Bolsonaro, quer as verbas e a influência em sua destinação. Companhia no palanque, por favor, dispensa.